A AVALIAÇÃO | A DISTOPIA E AS NECESSIDADES DO SER HUMANO
- raianecfferreira
- 10 de jul.
- 3 min de leitura

TÍTULO ORIGINAL: The Assessment | DIREÇÃO: Fleur Fortuné | Ano: 2025 | Países:
Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos da América.
Imagine um mundo em que para ter um filho você precise passar por uma avaliação rigorosa e um pouco bizarra. Essa é a realidade dos protagonistas de “A avaliação”, primeiro longa da diretora Fleur Fortuné. O trabalho se trata de uma ficção científica que propõe um futuro distópico após um desastre climático, no qual algumas poucas pessoas conseguiram construir uma cápsula de proteção contra o velho mundo, onde só há calor e desespero.
Neste contexto, acompanhamos o casal de cientistas Mia (Elizabeth Olsen) e Aaryan (Himesh Patel) que vivem uma vida confortável em uma casa minimalista. O trabalho de ambos é apreciado naquela nova sociedade. Aaryan tem a tarefa de criar animais virtuais hiper realistas, pois não é permitido animais ali, e Mia se dedica ao desenvolvimento da vida vegetal. Eles possuem uma vida calma e agradável, e concluem que é a hora de ter uma criança em sua vida. Porém, nesse novo sistema onde não há recursos suficientes, as famílias devem se sujeitar a uma avaliação que os concederão, ou não, um filho.
Eis que surge Virginia (Alicia Vikander), uma assessora que aplicará os testes durante 7 dias, cuja decisão é irreversível. A estranha mulher informa ao casal que precisará ter acesso a todos os espaços da casa e acompanhar a vida dos dois. E não demora muito para começar os testes. A séria e reclusa avaliadora vira uma figura instável e infantilizada colocando os “futuros papais” em situações inusitadas para entender se estão preparados para cuidar de uma criança.
Só essa premissa já instiga curiosidade. Porém, “A Avaliação” propõe algo para além de descobrir se o casal vai conseguir, ou não, o que deseja, na verdade ele trás uma reflexão sobre a humanidade e o que é ser humano. Na realidade em que os personagens estão inseridos, é perceptível as formas de controle que os envolve, e a sensação de uma liberdade que é limitada pelas regras impostas, pois, para viver nesse novo mundo, no qual humanos seletos ainda podem ter uma vida “comum”, é preciso se adequar.
Uma das coisas que achei interessante, é a construção das personagens, no qual não há um vilão, Virginia, apesar de parecer uma figura desconcertante, esta também possui um objetivo para o que faz. Todos os personagens se agarram a uma esperança, mesmo que ilusória de volta à normalidade.
Então, será esse um bom mundo para se viver? O filme nos põe em cheque questões nas quais podem passar despercebidos para nós, como a necessidade de dar amor a outro ser, de cuidar, de estar em contato com a natureza e interagir com os animais. No mundo de Mia e Aaryan não há nada disso, não há crianças, não há animais, não há perspectiva de um convívio harmônico com o externo. E o que existe é uma sociedade “vazia”. Me pego refletindo sobre a realidade em que vivo, onde não há uma preocupação real com a quantidade de lixo produzido, com a poluição, com os alimentos cheios de agrotóxicos, ou com o desmatamento de grandes florestas. Será que estamos caminhando para isso?
E eu gosto como o filme muda de vertente no seu terceiro ato, saindo dos parâmetros comumente esperados. Porém, o filme não explora de forma aprofundada a realidade posta na tela, ele apenas nos mostra o micro, e dele temos um resquícios do que ocorre no macro. Eu não acho que isso atrapalhou a minha experiência com a obra, porém, gostaria de saber mais daquele contexto do filme, entender as camadas que ele possui. Mas confesso que essa vontade é apenas fruto de minha curiosidade.
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