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O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? | A RIVALIDADE, O ETARISMO E UM NOVO SUBGÊNERO

  • Foto do escritor: raianecfferreira
    raianecfferreira
  • 7 de out.
  • 2 min de leitura

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As tretas de Hollywood sempre rendem assunto — e nada melhor do que ver essas relações conturbadas ganharem forma em uma boa obra cinematográfica. Um dos casos mais emblemáticos é a rivalidade entre Bette Davis e Joan Crawford, duas gigantes do cinema que, com o passar dos anos, foram sendo esquecidas pela indústria à medida que envelheciam.


Foi justamente nesse contexto que surgiu o clássico “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” (1962), dirigido por Robert Aldrich — um marco do terror psicológico que reuniu as duas atrizes em cena. O filme acompanha a relação entre Jane Hudson, uma ex-estrela mirim que fez sucesso como “Baby Jane”, e sua irmã Blanche, cuja carreira cresce enquanto Jane cai no esquecimento. Já adultas, isoladas em uma velha mansão, as irmãs vivem uma convivência marcada por intrigas, rancor, e loucura.


A produção ganhou fama não apenas pelo resultado brilhante nas telas, mas também pelos bastidores turbulentos. O set foi repleto de desentendimentos e disputas de poder e atenção, a ponto de o filme quase não sair do papel. Apesar disso, o longa foi aclamado, conquistou indicações ao Oscar, incluindo a de Melhor Atriz para Bette Davis, o que aumentou ainda mais o ciúme de Crawford.


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Toda essa história é revisitada na primeira temporada da série “Feud”, que mergulha nas tensões entre as atrizes e na forma como a própria indústria cinematográfica estimula essa rivalidade, reforçando padrões machistas e etaristas. A produção mostra também as dificuldades que ambas enfrentaram para conseguir novos papéis por serem mulheres mais velhas — uma crítica direta ao modo como Hollywood descarta suas atrizes ao perderem o “brilho da juventude”.


Na série, Susan Sarandon interpreta Bette Davis e Jessica Lange vive Joan Crawford, ao lado de Alfred Molina como o diretor Robert Aldrich, que tenta equilibrar o temperamento das duas estrelas. As gravações foram tensas, com episódios marcantes — como o famoso chute de Davis em uma cena, seguido pela vingança de Crawford, que colocou pesos sob o figurino para dificultar uma tomada em que precisava ser arrastada. Paradoxalmente, essa hostilidade real também serviu como combustível para promover o filme.


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Apesar do ceticismo de muitos executivos — que duvidavam do sucesso de um filme protagonizado por “velhas” —, “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” se tornou um divisor de águas. O longa deu origem ao subgênero Hagsploitation, que explorava narrativas centradas em mulheres mais velhas retratadas como figuras instáveis, cruéis e perturbadoras.


Esse subgênero, embora reforçasse estereótipos misóginos e etaristas, também abriu espaço para que diversas atrizes retomassem suas carreiras. Foi o caso das próprias Davis e Crawford, que voltaram a atuar em papéis complexos e memoráveis, como em “Com a Maldade na Alma” (1964) e “Almas Mortas” (1964).


No fim das contas, a história das duas atrizes escancara uma contradição típica de Hollywood: uma indústria que explora e rivaliza mulheres, ao mesmo tempo em que depende de seu talento para se reinventar. Por trás das tretas e das manchetes sensacionalistas, o que Davis e Crawford mais queriam era simplesmente continuar atuando, continuar existindo através do cinema.

 
 
 

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