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A MULHER REI | DO ÉPICO DE AÇÃO AO DRAMA FROUXO


Título Original: The Woman King | Ano: 2022 | País: EUA | Direção: Gina Prince-Bythewood | Roteiro: Maria Bello, Dana Stevens | Duração: 135 min


Existem muitos filmes que se destacam pelo seu apelo de marketing e pela espectativa de contar uma história que foi deixada de lado. E A mulher rei é um destes filmes que chamam atenção pelo que propõe, além de expor na tela história de mulheres fortes, ainda tem um posicionamento político. Mas apesar de tudo isso, precisamos também analisar aspectos da própria concepção do filme para entender realmente se o filme entrega aquilo que promete.


A MULHER REI é baseado numa história verídica e tem como foco as guerreiras do Reino de Daomé, conhecido como o exército de Agoji, na África. A região agora é o atual Benin, e foi lá que se formou um exército de oito mil guerreiras responsáveis por proteger o rei e lutar contra a força colonial vinda, principalmente, da França, no século XIX. Em “A mulher rei” acompanhamos a história da General Nanisca (Viola Davis) responsável pelo treinamento de uma nova geração de combatentes para uma batalha contra inimigos estrangeiros interessados no tráfico negreiro.


Considerando esta carga histórica, entendemos que o filme encarna um aspecto da crítica social muito forte. Seu foco compreende a exposição de uma história silenciada, de um povo que foi muito maltratado. Junto a tudo isso, ainda há muitas outras questões que o filme levanta, como a representatividade negra no cinema, a visibilidade dos povos e sua cultura, assim como também do protagonismo feminino na história e na sétima arte.


Com um elenco incrível de mulheres negras e uma fotografia que consegue exprimir a cultura do povo africano e da dor, raiva e força das mulheres guerreiras, o filme causa curiosidade e boa impressão em seus minutos iniciais. A grandiosidade da história parte da própria potência feminina e sua presença corporal. Mas, para além de todo contexto que o filme aponta, não podemos esquecer dos aspectos estéticos e narrativos. Quando focamos neles, percebemos escolhas pontuais que comprometem a harmonia em tudo o que ele propõe.


A diretora consegue equilibrar os eventos que surgem no caminho da protagonista, os dramas pessoais com os conflitos externos. E as cenas de ação são muito bem elaboradas e executadas, enfatizando a destreza das guerreiras e suas habilidades. Porém, falta algo para que o filme tenha realmente uma boa estrutura na sua totalidade. Estamos falando da construção da estória em si.


O roteiro perde sua consistência na metade do segundo ato, onde há a exposição das problemáticas do reino e da vida de Nanisca. Aquilo que motiva as personagens em destaque não parece um ponto bem desenvolvido durante a trama, causando estranhamento quando consideramos certas atitudes percebidas nas personagens. Como por exemplo a superação dos traumas vividos pela General. Nesse caso, a diretora poderia ter se concentrado em trabalhar melhor as personagens ao longo do filme. Talvez operacionalizando melhor os conflitos internos e os ligando aos dilemas da própria estrutura monárquica.


Outro ponto a destacar é a pouca força das figuras masculinas, totalmente descartáveis e com pouca profundidade na estória. É claro que neste longa o protagonismo é das mulheres, mas aqui, a escolha pela estereotipia masculina comprometeu as interações entre os sexos, ficando apenas na superficialidade, algo transparecido muito pelo nível de diálogo entre eles.


Em Daomé, muitas mulheres ocupavam cargos essenciais na sociedade, diferente das estruturas ocidentais da época. Porém as Agoji eram mulheres limitadas, não podiam casar, ter um parceiro sexual ou constituir família. Elas deveriam viver em prol do reino e proteger a si e suas companheiras de luta. Apesar da tomada francesa no território, após duas guerras, a capacidade de batalha destas guerreiras era realmente inacreditável. E Agoji pode ser considerado o único exército exclusivamente de mulheres com registro histórico.


Quando pensamos no campo da performance, entendemos o quanto Viola Davis é de fato uma atriz memorável. Ela consegue passar os traumas da personagem através de seu próprio corpo. Vemos e sentimos as expressões de cansaço, medo, dor e alívio, algo que poderia ser mais explorado e pontuado na personalidade da guerreira. Assim como Davis, também devemos destacar o trabalho das demais atrizes, como Lashana Lynch e Thuso Mbedu. Apesar do talento desse grupo, os atores não conseguiram levantar o nível do filme em seu resultado final.


Ficamos com a sensação de que o filme tenta lidar com muitas problemáticas em apenas 2 horas. Um excesso materializado no conflito entre o rei e os comerciantes, no problema do tráfico de escravos, no desafio que as guerreiras enfrentam por serem mulheres nesse universo violento, na saga das combatentes mais jovens para serem aceitas no exército de Agoji. Além de tudo isso, ainda temos os traumas da general e a briga pela nomeação da Mulher Rei entre Nanisca e uma das esposas da realeza.


Pensando em todos estes apontamentos, a obra poderia ter focado mais no desenvolvimento da ação em si, seu ponto de maior destaque, assim como na dificuldade de Nanisca para comandar o exército e enfrentar seus dilemas pessoais. Porém o filme escolhe ir pelo caminho do drama emocional. Acaba caindo nos clichês do gênero, deixando de se aprofundar no que garantiria uma estrutura mais pontual e equilibrada da narrativa. Apesar disso, A mulher rei é um filme que vale a pena assistir. Tanto pela sua importância histórica, política e inclusiva, como por garantir visibilidade para mulheres na frente e atrás das câmeras.


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