top of page
Buscar
Foto do escritorraianecfferreira

A SUBSTÂNCIA | A VIOLENTA BUSCA PELO PRESTIGIO MASCULINO



Direção: Coralie Fargeat  | Título original: The Substance | Ano: 2024 | País: Estados Unidos e Reino Unido


A substância  (The Substance, 2024), é um body horror visceral que está chamando atenção por sua abordagem estética e temática. neste seu novo filme, Coralie Fargeat, diretora de Vingança (2017), se volta à narrativa de horror para discutir questões vinculadas tanto ao cômico quanto ao trágico. 


Na obra, acompanhamos Elisabeth Sparkle (Demi Moore), uma ex-estrela que deseja reconquistar seu espaço no mundo de Hollywood. Ao ser dispensada pelo produtor do programa matinal onde trabalha, decide se submeter a uma experiência que promete uma nova versão dela, mais jovem e mais bonita. O problema é que Elizabeth não sabe lidar com sua nova vida dupla, e se envolve em uma turbulenta relação com seu outro eu, tudo para agradar uma indústria que a despreza por estar velha.


A diretora utiliza de uma decupagem pautada no estranhamento para causar reações diversas no público. Como planos detalhes do corpo em desintegração ou de takes repetidos de agulhas entrando na carne, do sangue ou da comida que sujam o ambiente. Escolhas estas que são comuns ao body horror, caracterizado por enfatizar o grotesco do corpo. Desta forma é acionado outras obras em sua produção, referências como Carrie, a Estranha (1976), O Homem Elefante (1980), e filmes de David Cronenberg como Scanners (1981), Videodrome (1983) e Crimes do Futuro (2022).

 

Por mais que a abordagem se justifique no seu campo referencial, há alguns excessos que prejudicam o filme. Apostar demais em planos detalhes para causar reações pensadas no público soa como um artifício preguiçoso nesta obra. Mecanismos estes que não ajudam o espectador a se conectar com o filme por outras formas. Tudo parece esquematizado e pensado para gerar reações previsíveis sem uma abertura para espontaneidade.


A crítica concentrada no discurso e a falta de coerência naquilo que quer discutir, junto da construção imagética escolhida torna o conjunto da obra  conflitante. Fargeat parece querer criticar a objetificação de mulheres na indústria do entretenimento, porém, se utiliza de uma decupagem que valoriza o olhar masculino perante o corpo feminino.



Tirando a dinâmica interessante da montagem e os planos que valorizam o estranho, o sujo e a degradação do corpo, o filme se acomoda em convenções discursivas do cinema masculino. O grande exemplo é o fato da diretora trazer Sue (Margaret Qualley) sempre bem iluminada, sem rugas e sensual diante a câmera, enquanto Elisabeth aparece envelhecida, amargurada, sofrida. Seu estado de penúria transcende a esfera da psique e alcança o estado corpóreo.  


A doação de Demi Moore na interpretação desta personagem é grandiosa. Dá para perceber o quanto a atriz se entregou neste papel, que, com certeza, vai ajudar a redefinir sua carreira nesta etapa da vida profissional. E, mesmo diante de uma personagem de construção rasa, sem camadas complexas que a fizessem questionar suas próprias escolhas, a experiente atriz consegue imprimir um tom para o filme com sua presença.


Retornando ao nível do filme, notamos o quanto é violento o caminho no qual a personagem percorre. Passamos a maior parte do tempo vendo a autodestruição de uma mulher que, de acordo com ela, se odeia e que não aprende nada durante a bizarra experiência. Enquanto Elisabeth e Sue vivem seu combate, a indústria masculina se beneficia com o discurso da rivalidade feminina. Para mim, não faz sentido a protagonista querer uma versão bonita dela mesma apenas para agradar aqueles que a rejeitaram, e que não sofrem nem metade do que ela passa.


Todos estes apontamentos nos levam a uma questão. Será A substância um filme feminista? Se formos responder isso embasados nas teorias feministas do cinema, onde teóricas como Laura Mulvey, Ann Kaplan, Teresa de Lauretis, e outras, ou levando em conta os parâmetros do contra-cinema feminista, podemos afirmar que este filme de Fargeat não pode ser considerado feminista. Pois ele não traz em seu pensamento estético, e em sua concepção fílmica nada que muito longe das convenções da violência do olhar marculino mesmo que exista alguma intenção em construir uma  narrativa feminista.


27 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

1 comentario


Mailin Claudia
Mailin Claudia
21 nov 2024

Eu senti a mesma coisa ao assistir esse filme. Ao invés de me provocar reflexões fez foi acender vários gatilhos em mim e acredito que em várias mulheres também.

Me gusta
bottom of page