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ANORA | O ESTEREÓTIPO E O SONHO FRÁGIL




Neste novo filme de Sean Baker, acompanhamos Anora, uma dançarina de clube noturno do Brooklyn que se envolve com o filho de um oligarca russo. Após um breve encontro, eles acabam se casando movidos por um forte movimento de impulsividade juvenil. Ao descobrirem a união, os pais do garoto o forçam à anulação do casamento e a vida da jovem se transforma em uma grande confusão.


Assim como em seus outros filmes, Baker consegue construir muito bem as cenas, dando uma certa complexidade para a mise en scene, principalmente naquelas que exigem um dinamismo dos personagens. E é interessante a proposta de desconstrução do “conto da Cinderela” no qual uma moça pobre se casa com um homem rico conquistando seu “feliz para sempre”. Mas não acho que isso faça do filme um bom trabalho, nem o considero uma versão disruptiva de “Uma Linda Mulher”. Na verdade, Baker ainda permanece num lugar bem comum.


O diretor tem como protagonista uma jovem acompanhante de luxo que não se desloca muito do estereótipo da profissional do sexo na contemporaneidade. Ele não explora nuances da garota fora do ofício. Eu gostaria de ter visto mais dela, saber quem é Anora fora da figura da dançarina. O que ela deseja? Quem são seus amigos? O que faz nos dias de folga? 


Mal conhecemos a moça e ela já se envolve com um garoto mimado e prepotente, mas que a proporciona momentos felizes. Seu envolvimento é evidentemente por aquilo que o rapaz possui, assim, Anora se apaixona por uma ilusão de conforto e riqueza. Fico me perguntando onde é que mostra no filme esse tal desejo de Ani por se casar para sair da vida que tem. Será que deduzir isso não seria reduzir a uma ideia específica dessas mulheres dessubjetivado-as como indivíduos complexos? (Só para pensar)


É evidentemente que Ani é imatura e superficial, pois demonstra desejo por uma vida luxuosa. O que me incomoda é o fato do diretor não explorar as nuances reais que o feminino carrega. E uma prova de que ele não sabia o que fazer com a personagem fica explícito no segundo ato. 


Diante da confusão envolvendo um trio de gângsters russos, a protagonista se diminui, fica pequena, é humilhada, desconsiderada e usada. Se torna coadjuvante de sua própria história. E é muito fácil para os personagens arruinaram a vida de Anora, assim como a direção arruina a possibilidade de termos uma boa história a partir de uma personagem marginalizada. 


Pensando criticamente, me parece que a imagem feminina aqui surge como um atrativo para o público masculino, mas este feminino é o que menos importa. E o que ela tem a dizer, o que ela quer, no final das contas é eclipsado pelo drama dos russos. E, ao invés de termos uma desilusão gradual, Baker faz sua personagem seguir firme com sua ilusão, até não poder mais negar a realidade.


É difícil, para mim, gostar de Anora, pois não consigo me desligar das críticas feministas ao cinema voyeurista masculino hollywoodiano. Uma abordagem bem diferente de obras como “Pleasure” (2021) de Ninja Thyberg, e How to “Have Sex” (2023) de Molly Manning Walker. Neste dois longas, as protagonistas vão se desiludindo gradualmente com o mundo do sexo. No primeiro, Bella, que desejava ser uma grande atriz pornô, percebe o hostil e degradante mundo dos filmes adultos, já no segundo, Tara, ainda virgem, é violentada em uma viagem com as amigas, algo que a faz repensar sua visão sobre o sexo oposto.


Nestes dois filmes, acompanhamos as garota de perto, conseguimos entender seus medos, angústias e desejos. As personagens vão ao encontro de um processo de subjetivação de si mesmas. Em “Pleasure”, Bella nem sempre está bela e sexy, a direção sabe muito bem dar tonalidades profundas à personagem e às violências por ela vivenciada no mundo da pornografia, refletindo sobre esse mesmo universo que Baker deseja, mas não consegue tratar, em Anora.


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