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"Bady". Diante do corpo que não enxergamos.

Atualizado: 23 de jan. de 2019



Copo pode ser definido como tudo o que possui massa e ocupa espaço podendo ter ou não vida. É aquilo que possui uma estrutura ou que compõe algo. O corpo humano é um objeto instigante para pesquisadores e cientistas, mas também é um elemento artístico expressivo. Já estamos acostumados ao ver corpos imprimidos na tela do cinema, porém, teremos um olhar diferenciado sobre esse tema no filme Bady (2015) da cineasta polonesa Malgorzata Szumowska, em que foi premiada com o Urso de Prata de Melhor Direção no Festival de Berlim 2016.


O filme começa com Attorney Janusz Koprowicz (Janusz Gajos), perito de polícia, indo verificar o corpo de um homem enforcado pendurado em uma árvore. Os policiais tiram o corpo da árvore, então o homem, supostamente morto, se levanta e sai andando. O perito e os policiais ficam olhando sem entender. O tom cômico e dramático pontuado na cena define as características do filme. Como o título diz, o filme trás a temática do corpo, mas não só o corpo material, mas o corpo espiritual ou mental, dentro do drama familiar.


Janusz é um pai de aparência mais desleixada e acima do peso, já sua filha Olga (Justyna Suwala) tem a aparência esquelética, parece preocupada com a aparência e costuma comer pouco, ou nada. Percebemos essas características logo na segunda cena em que os dois estão à mesa, ele come um galeto com as mãos, e ela tem alguns legumes o prato. É nítida a divergência entre essas duas figuras, porém não é a forma como trata seus corpos o real conflito dessa relação, mas a morte da mulher de Janusz e mãe de Olga.


O filme caminha e está claro que Olga sofre de bulimia e Janusz parece saber da doença da filha, mas só toma uma posicionamento quando encontra a filha quase desmaiada no banheiro. Diante de uma situação, ele decide levar Olga para se tratar da doença. É aí que conhecemos Anna (Maja Ostaszewska), uma terapeuta que trata meninas com anorexia e bulimia. Então passamos a ver um pouco da rotina desta personagem peculiar. Além de seu trabalho, Anna é médium, ela recebe comunicação de espíritos e mensagens através da psicografia. Anna conhece Olga e começa a entender as questões da menina com o pai e como a morte de sua mãe afetou seu lado emocional.



É nas cenas da terapia de grupo que a temática do corpo faz viva, e ao longo do filme percebe-se que estas doenças não são algo que atinge somente a personagem Olga, mas vários jovens daquele país. Em uma das cenas, uma paciente analisa a silhueta de Anna, e afirma que ela não tem personalidade por não fazer mostrar seus contornos, pois para elas, ter uma silhueta esquelética é forma de mostrar personalidade, fazendo muitas moças e rapazes adoecer para atingir tal padrão. Porém não somos apenas corpo, mas mente e espírito.


Na primeira cena em que Janusz e Anna se encontram, os dois estão na sala do diretor do hospital e vemos um plano aberto mostrando a sala e uma forte luz entrando na janela, a imagem causa a ideia de alguma presença divina no ambiente. Quando Anna aborda Janusz para falar de Olga, ela diz sentir a presença do um espírito de uma mulher, e fala abertamente com ele sobre isso, comentando que o caixão dessa mulher está inundado. A princípio Janusz se mostra cético, mas ao ver com seus próprios olhos o caixão de sua esposa inundado, ele começa se interessar pelo assunto. O filme já dá indícios de algo paranormal acontecendo no apartamento de Janusz; portas que se abrem, sistema de som que liga e desliga sozinho, dentre outras coisas. Por mais que ele não acredite, seria muito bom falar com sua esposa novamente.


O filme agora fala do corpo imaterial, um corpo espiritual, que não enxergamos, que alguns acreditam e outros não. Anna tem sua vida movida por sua crença no corpo espiritual, ela vai a reuniões, palestras e sente-se útil quando consegue ajudar pessoas que, assim como ela, sofrem pela perda de um filho. E aos poucos o seu olhar muda um pouco o olhar de Janusz e Olga, aceitando tentarem um contato. Porém o filme não está interessado em mostrar uma salvação na relação de pai e filha através de algo sobrenatural, mas através do compartilhamento de um pensamento.


Malgorzata também foi uma das roteiristas, com isso ela consegue um equilíbrio entre os pontos de vistas sobre o corpos dos personagens, os cadáveres, os corpos livres, os doentes, o que se transformam e o que transcendem. O próprio filme é um corpo vivo, ele não dá respostas para as problemáticas colocadas nele, mas consegue tocar pela forma como trata as emoções e as relações desses corpos.



Ficha técnica:

Título Original: Cialo.

Duração: 92 minutos

Ano: 2015

Direção: Malgorzata Szumowska

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