BIRD | ENTRE A DUREZA E A LEVEZA DO MUNDO

Bird | Dirigido por: Andrea Arnold | Ano: 2024 | Duração: 1h 58m

“Bird”, novo filme de Andrea Arnold, acompanha a jovem Bailey (Nykiya Adams) de 12 anos que mora com seu pai Bug (Barry Keoghan) em um conjunto habitacional improvisado. Depois do anúncio do casamento do pai com sua nova namorada, ela entra em crise se afastando de casa e de seus familiares. É o momento em que encontra um misterioso rapaz chamado Bird (Franz Rogowski) que procura sua família e Bailey decide ajudá-lo.

A profundidade do filme está no seu tom, que oscila entre a dureza e a leveza do mundo. Entre o inóspito e o acolhedor. Arnold mostra um Reino Unido sujo e precário, uma realidade pouco mostrada em filmes. E a partir da percepção da personagem, de sua trajetória se revelam questões sociais complexas como a violência doméstica, a falta de assistência, a divisão de classes e a dependência química. Onde mulheres são vítimas de si mesmas e de homens agressivos, onde a infância é maculada, e adolescentes viram pais e mães.

Apesar disso, o filme também propõe uma certa beleza em momentos improváveis a partir da percepção da protagonista, do seu lado inocente e puro que se encanta ao estar junto da natureza. A presença de Bird acarreta outro tom à narrativa, seu jeito doce e terno trás leveza e mistério. A força deste personagem vai crescendo ao longo da história, assim como Bailey vai se fortalecendo e construindo sua identidade nesse mundo caótico.

Assim como seus filmes anteriores, Arnold usa a câmera  documental e estética naturalista para contar a história, mas não se acanha em propor um toque fantástico. A meu ver, “Bird” fala de transformação, daquelas mudanças que só o tempo pode realizar. É a menstruação que chega, a aceitação de uma nova família, o confronto necessário, a resposta infeliz e o adeus. 

Bird e Bailey desejam voar. Ele, já adulto, em busca de seu caminho, e ela, pré-adolescente, ainda construindo seu eu. Assim, temos aqui uma verdadeira obra cinematográfica, cativante e espirituosa, cheia de realidade e magia.