BLACKBIRD BLACKBIRD BLACKBERRY | O AMADURECIMENTO TARDIO
- raianecfferreira
- 8 de ago.
- 2 min de leitura

Sabe aquele filme que carrega um tom agridoce em sua construção? O filme “Blackbird blackbird blackberry” é um bom exemplo disso. Nesta magnífica obra de Elene Naveriani, temos uma história de amadurecimento tardio, cheio de erotismo, beleza e singularidade. Nele acompanhamos Etero Gelbakhiani (Eka Chavleishvili), uma mulher solteira de 48 anos, que vive em um vilarejo na Geórgia.
Em meio a fofocas e comentários maldosos, ela vive sua vida pacata, de trabalho no seu pequeno mercadinho. Até que um dia, após quase cair de um desfiladeiro e quase morrer, ela se envolve com um entregador. Etero é conhecida por ser independente e desprovida de qualquer relacionamento amoroso, e diante desta situação, prefere manter seu amor em segredo.
A narrativa simples e a delicada direção, se atenta a momentos banais de uma mulher madura, mas que vive um romance proibido, quase adolescente. Apesar de algumas passagens que evocam o onírico, a história carrega um tom naturalista, marcado pelos encontros entre os amantes, e pelos momentos de liberdade da protagonista. Tudo é posto de forma equilibrada, e cada vez mais entendemos que ela é e sua trajetória de vida meio a um luto interior, a dor e a culpa pela morte da mãe, e um pai e irmão que limitaram sua vida. Não é à toa que a mulher agora não quer se ligar a homem nenhum, porém, o destino lhe preparou surpresas inesperadas.

É de fato interessante a metáfora que a direção faz sobre a protagonista e as amoras que ela adora comer. O pequenino fruto possui tonalidade escura, sabor doce, levemente ácido e demora para amadurecer, sendo o último a ser colhido. Etero é como as amoras que colhe. Apesar de sua doçura, possui lembranças amargas que escurecem seu eu, porém, ao ser “colhida”, descobre que pode ser amada.
A protagonista não é bela, nem jovem, mas nos cativa sua sutileza e ingenuidade, mesmo que, em alguns momentos, precise ser firme em sua escolha de vida, ou que esconda seu relacionamento, nos deixamos levar pela trajetória dessa interessante figura, cuja presença corporal ativa significados múltiplos meio a uma sociedade opressora.
“Blackbird blackbird blackberry” é uma obra inventiva e singular, que opta por expor momentos banais, mas significativos no que se refere a contar um pouco das personagens e do meio em que se encontram. E, cinematograficamente, ela mostra o micro, o particular, mas não deixa de revelar o que há no macro, no conjunto daquele vilarejo, como o machismo estrutural e a violência de gênero, por exemplo. E é por isso que este filme de Elene Naveriani, merece ser considerado e apreciado, tanto por aqueles que pensam cinema, quanto aos que procuram uma verdadeira experiência cinematográfica contemporânea.
Comentários