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CENSOR | A MENTE ENTRE A REALIDADE E A FICÇÃO


Cada vez mais vemos mulheres dirigindo filmes de terror, e isso é muito interessante, já que o gênero tem a fama de ser violento e bastante masculino. Na contramão de tudo o que se pensa, as diretoras vem propondo histórias que encorpam o horror ao trazer discussões sobre gênero (The Love Which), classe (Animal cordial), religião (Santa Maud), depressão (babadook) ou corporeidade (Titane) com um olhar próprio. E como sempre estamos trazendo filmes de terror dirigidos por diretoras, agora chegou a vez do filme “Censor” (2021) dirigido pela novata Prano Bailey-Bond.


“Censor”, primeiro longa de Prano Bailey-Bond, é um filme de terror que possui um tom saudosista aos filmes B do começo dos anos 80, e que agrada aos fãs do gênero por ter o controle de sua atmosfera. A trama se passa na Inglaterra nos anos de 1985, e acompanhamos Enid (Niamh Algar), uma censora que precisa lidar com os famosos “video nasty”, filmes de terror de orçamento baixo e que chamam atenção pela violência explícita e que estava virando febre na Inglaterra. Com o objetivo de regulamentar estes conteúdos oriundos do vídeo, o governo iniciou um programa de censura.


O filme faz menção a esta época onde havia muitas incertezas com relação a estas novas produções. E a ditetora utiliza o estilo destes filmes para contar sua história. O filme mistura vários estilos, brinca com a estética do vídeo, assim, traz o espectador para perto dos dilemas da protagonista. Em um dos filmes a serem censurados, Enid acha semelhanças daquilo que acontece na ficção, com o desaparecimento de sua irmã. Assim, ela mesma inicia uma investigação que começa a atingir sua sanidade.


A narrativa possui uma crescente, passando do drama psicológico ao terror psicológico. A direção utiliza muito a estética dos filmes B do começo dos anos 80, com o contraste, a fumaça e a exposição à luz. O mais interessante é como Bailey-Bond organiza os elementos para criar uma atmosfera asfixiante que está presente em todo o filme.


A violência é de fato um tema em questão neste longa, e dentro do contexto da história, a diretora consegue aproveitar bem as reações da protagonista, o seu olhar revela muito sobre o seu estado mental e a sua perturbação crescente à medida em que vai se engajando mais na realidade dos vídeos que assistem em seu trabalho. Assim, Enid vai saindo da estranha monotonia e adentrando um caminho obscuro na tentativa de resolver o passado.


Os vídeos que ela assiste a faz reviver lembranças reprimidas de seu passado, algo que é misterioso e que ela mesma reprimiu. Porém, diante do fascínio e repulsa existentes no conteúdo daquelas obras, Enid vai sozinha confrontar os mistérios de sua própria mente reprimida e de seus instintos violentos, desta forma, as linhas que dividem ficção e realidade começam a se corromper. E o desfecho de tamanha busca não poderia ser outro. No último ato temos a inclusão de clichês sobre os efeitos danosos do terror, onde o bizarro e o sombrio se misturam deixando uma sensação de estranheza e dúvidas.


Para os fãs do gênero de terror, esta obra cai muito bem, já que aciona muito a estética dos filmes B de horror e que agradam um grupo específico de espectadores. Neste primeiro longa de Bailey-Bond há quem encontre referências de filmes como O Corretor (1991), de Atom Egoyan e Videodrome: “A Síndrome do Vídeo” (1983) de David Cronenberg, porém aqui ele não investe em uma perspectiva mais experimental da narrativa, ele está mais voltado na construção da dramaturgia, diferente de filmes como “Sob a Pele” (2013) de Jonathan Glazer, “Possessor” (2020) de Brandon Cronenberg ou até mesmo o mais novo filme de David Cronenberg “Crimes do Futuro” (2022), que são obras que exploram a atmosfera do terror de forma maia aberta a experimentar novas maneiras de contar.


Podemos considerar Censor um filme que agrada um público específico, que tem uma estética muito bem pensada e estruturada para sua narrativa, mas que está apenas repetindo padrões já ultrapassados, fazendo referências saudosistas a aspecto do gênero que já foi superado por grandes diretores que repensam a estética do terror, e se voltam para uma visão mais contemporânea da vida humana e seus dilemas.



Título original: Censor

Ano: 2021

Diretora: Prano Bailey-Bond

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