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DEUS É MULHER E SEU NOME É PETÚNIA, E A MISOGINIA NA IGREJA CATÓLICA.


"Deus é Mulher é Seu Nome é Petúnia" é uma obra potente e intrigante. O longa acompanha Petúnia, uma mulher de 32 anos que mora com os pais, está desempregada, não tem um namorado e está com sobrepeso. A princípio, o filme discute as formas de validação do sujeito bem sucedido, trazendo uma protagonista que não se enquadra nesse padrão. Com isso, Petúnia é um símbolo do fracasso para sociedade em que ela se insere.


Nas primeiras cenas a protagonista se prepara para uma entrevista de emprego, e mesmo sem experiência no cargo, ela demonstra confiança. A entrevista não chega a ser uma das melhores, já que ela é assediada sexualmente pelo entrevistador. E ao impedir o contato com o homem, Petúnia é humilhada e dispensada, indo embora sem conseguir trabalho.


Em algumas regiões da Macedônia o feriado da Epifania é o maior festival do ano. Nomeado O batismo de Cristo, o evento simboliza o renascimento do homem e normalmente envolve um ritual que acontece na água de um rio. Durante a cerimônia, uma cruz é jogada na água e, pela crença de boa sorte e prosperidade, os homens competem para pegá-la.

Houve uma vez que uma mulher pegou a cruz, causando espanto aos fiéis. Com isso, a diretora e roteirista Teona Strugar Mitevska utilizou este fato verídico para trazer um olhar crítico sobre a realidade misógina que existe até hoje na igreja católica, e que afeta socialmente a vida de muitas mulheres.


Ao voltar da entrevista de emprego, Petúnia se depara com a cerimônia do batismo de Cristo. Ao ver a cruz sendo jogada no rio, ela entra na água e a recolhe de lá. Quem além dela necessitaria de sorte e prosperidade? Este fato causa espanto e confusão, ainda mais quando o padre afirma que mulheres não podem participar do evento e a acusa de roubar um objeto sagrado da igreja.


O longa tem um roteiro bem marcado com pontos e falas que direcionam o público para o seu tema central: a misoginia. Traz a religião como um ponto chave para iniciar seu discurso e expõe as questões que rodeiam a sociedade patriarcal, e os padrões da igreja católica e que estimulam atos violentos contra as mulheres, as colocando em um lugar de inferioridade.

Petúnia é perseguida e presa pois não aceita devolver a cruz. Seu nome é divulgado na mídia, sua imagem é difamada e todas passam a opinar sobre ela mesmo sem conhecê-la. Na prisão ela sofre agressão verbal por parte dos policiais homens. Fora da prisão, é agredida fisicamente por homens devotos que almejavam pegar a cruz. Então, onde será que Petúnia poderia estar segura?


Manter a protagonista algumas horas na cadeia por capricho da igreja pode parecer algo quase surreal, mas possível de acontecer. Por mais que o padre não saiba muito bem o que fazer com relação aos questionamentos dos motivos de prendê-la, ele continua se apoiando nas normas ultrapassadas da igreja. Contudo, os atos violentos vindo de seus homens a colocam em conflito. Será mesmo que sua religião tem a verdade?


A direção tem um posicionamento crítico e direto sobre sua temática, juntamente com um olhar estético que, assim como sua protagonista, não parece se enquadrar nas normas estéticas que buscam a perfeição. Optando assim por, vez ou outra, usar planos mal enquadrados e câmera nervosa.


O filme é despretensioso, e assim como Petúnia, seu ato não é uma afronta às regras religiosas, mas sua existência por si só já o é. Com isso, o longa traz muitas reflexões em cima da violência que o feminino sofre, sem querer resolver ou responder as perguntas que ele mesmo gera, como a do próprio título "E se Deus fosse mulher?".






Título: Deus é Mulher e Seu Nome é Petúnia

Direção: Teona Strugar Mitevska

Ano: 2019

Países: Macedônia, Bélgica, Eslovênia, França, Croácia.

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