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DOENTE DE MIM MESMA | O BENEFÍCIO ILUSÓRIO DA DOENÇA



Título original: Sick Of Myself | Direção: Kristoffer Borgli | Ano: 2022 | País: Noruega


A psique humana é o centro de muitos estudos por parte da psicologia. E o cinema parte dessa premissa para elaborar personagens que possuem uma complexidade psicológica que desperta a curiosidade do público. Não à atoa, filmes como Através de um espelho, Psicose, Cisne negro e Clube da luta se tornam grandes sucessos por explorar as complexidades da mente humana. Neste vídeo iremos falar sobre o segundo longa do diretor norueguês Kristoffer Borgli, “Doente de Mim Mesma” (2023), exibido no Festival de Cannes de 2022. 


“Doente de Mim Mesma” se trata de uma comédia de humor ácido no qual acompanhamos a jovem Signe em sua conturbada relação com o namorado Thomas, um artista norueguês contemporâneo e bastante influente na sua cidade natal. Logo de cara, percebemos a competitividade que existe entre o casal, seja por meio dos diálogos ou das situações absurdas no qual a moça se colocava para ter atenção dos outros.


Porém, as histórias e os eventos indevidos e de apelo emocional vão tomando um rumo perigoso. Quando Signe se sente diminuída pela ascensão do namorado no campo artístico, ela descobre uma forma de doentia e absurda de recuperar a atenção do rapaz. Ela até consegue o que deseja, mas por um preço muito alto.


Com um estilo naturalista e cenas cheias de tensões, o diretor consegue trazer ao longa tanto elementos do gênero da comédia quanto do horror psicológico. Táticas acionadas tanto pelas situações extremas,quanto absurdas, quase surreais e apavorantes. Tudo isso incorporado nas escolhas estéticas da imagem e da concepção sonora da obra.



Como o título já diz, esta é uma história onde a protagonista é o pivô da sua própria ruína, pois não se trata somente de uma relação tóxica ou de todos os efeitos que surgem dela, mas sim de uma pessoa presa na sua própria condição nociva. A abordagem tragicômica proposta pela direção ressalta a personalidade de Signe. Um traço que parte da crítica tende a definir como narcísica, mas que vale uma reflexão mais aprofundada, principalmente se considerarmos o fato de que nem todo crítico é psicológico para determinar essa condição, ainda que em uma análise de uma obra de ficção. O que entendo é a existência de muitos problemas psicológicos que afetam diretamente nas atitudes e escolhas da jovem.


Saindo da busca por um diagnóstico, o que vemos na contemporaneidade é uma certa procura pela afirmação a partir do olhar do outro. E diante da superficialidade das relações contemporâneas, aderem a uma máscara de perfeição e sucesso. É nesse sentido que, tanto Signe quanto Thomas buscam o sucesso através do risco, ele pelos atos ilícitos, e ela pelo autoflagelo. 


Na minha interpretação do filme, Doente de Mim Mesma é menos sobre patologias da mente, e mais sobre as condições sociais da atualidade. Um estado de ser que, ao incitar um ideal de sucesso, gera tão somente adoecimento. Ao ver o caminho perigoso por onde a protagonista decide seguir, não podemos deixar de perceber a real existência de indivíduos que utilizam de suas mazelas para conseguir algo. Algo que pode estar intrínseco na atitude de uma mãe, um pai, avô, avó, tio, primo, ou até mesmo você. Todos podemos cair nesta armadilha. Pois quem não quer ser notado e cuidado no meio da multidão?  


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