Muitos conflitos existentes no mundo são causados pelas guerras movidas por disputa de terras, intolerância religiosa, interesses políticos, busca por poder, etc. A figura masculina está diretamente associada a estes conflitos que fazem morrer centenas de pessoas. E é por isso que no filme de Nadine Labaki "E agora, onde vamos" (2011) traz o tema bélico, mas partindo da reflexão sobre o papel do feminino diante da guerra.
"E agora, onde vamos" é o segundo filme da diretora Libanesa, e traz delicadeza feminina diante de uma temática de destruição e morte. O filme se passa em um vilarejo no Líbano que está separado do resto da civilização por minas terrestres e por uma pequena ponte. Os moradores variam entre cristãos e muçulmanos, e por conta dos conflitos religiosos que existem no país, sempre surgem choques entre vizinhos. Por mais que possua um tom dramático, a diretora consegue equilibrar a tensão com cenas musicalizadas e performadas pelos personagens, trazendo o tom cômico.
O causador do estremecimento da paz na aldeia aparece por meio do aparelho de tv, em que diante do noticiário os homens tem uma pequena informação, esta é como uma centelha para que comecem as brigas entre os vizinhos. Estes conflitos são colocados pela diretora com ironia e humor negro, surgindo de coisas bobas e aparentes. Neste momento, a ignorância passa a ser uma ameaça à racionalidade dos homens, e são as mulheres que criam artimanhas para que não haja mais mortes precoces.
Com a tentativa de ganhar tempo até a guerra passar, e não alimentar mais ainda a intolerância nos habitantes do vilarejo, as mulheres, muçulmanas e cristãs, se unem e fazem de tudo para que os homens estejam longe de novas notícias da guerra e distraídos com outras coisas. As saídas que elas criam para distrair seus maridos e conhecidos são simples e causam breves risadas, pois no filme a imagem que temos é que os homens são "primitivos" e de simples compreensão, então elas usam soluções que envolvem entretenimento, sexo e comida.
Quando elas percebem o clima mais tenso, resolvem trazer um grupo de dançarinas ucranianas, assim os homens se ocupam com as mulheres gringas sendo educados e receptivos a visita. Outra solução para amenizar as tensões foi preparar guloseimas e aperitivos, porém com um pouco de haxixe para colocar todos os homens para dormir. As tentativas parecem inúteis, depois de um tempo os homens voltam a se matar gerando lágrimas e desarmonia. Tudo isso indicando que a natureza masculina implica este tipo de comportamento.
O filme aborda as tensões políticas entre religiões, porém, a relação entre homens e mulheres é mais explorada pela diretora. O contexto do conflito religioso está no filme como uma válvula para as discussões de gênero, sendo os homens mais ligados guerra, a conquista, a agir sem pensar, a serem mais instintivos e explosivos, não conseguindo ter momentos de tranquilidade e paz, pois precisam estar atentos guerra em defesas de seus ideais. Já as mulheres são astuciosas, emocionais, fortes, e acabam por ter que assumir o controle para que os homens não se matem.
Por mais que o filme se passe no oriente médio, estas características masculina mais presente na realidade brasileira que se pensa. É só parar para ver a quantidade de mortes que acontecem por rivalidades, descontroles amorosos, brigas no trânsito, ou alterações por conta do álcool. O filme nos leva reflexão sobre o tipo de masculinidade que é desenvolvida e repassada para as gerações, mas que precisa ser repensada. Seria essa uma masculinidade que foi geradora de guerras e mortes, mas que precisa urgentemente encontrar seu lado feminino, e fazer desabrochar a delicadeza do cuidar com o outro, com as famílias, as cidades e os vilarejos.
Ficha técnica
Título original: Et maintenant on va où?
Diretor: Nadine Labaki
Duração: 1h 50min
Ano: 2011
Link para download: https://bit.ly/2GoKwSU
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