top of page
Buscar
Foto do escritorraianecfferreira

ENTRE MULHERES | A FALA DO CINEMA DE MULHERES


Título original: Women Talking | Direção: Sarah Polley | Roteiro: Miriam Toews e Sarah Polley | Gênero: Drama | Duração: 1h44min


As temáticas femininas estão cada vez mais em alta, apesar de não existir tanta adesão da indústria de Hollyhood aos trabalhos de diretoras. Um exemplo foi a carência de indicações femininas no prêmio de melhor direção para o Oscar 2023. Mas no meio de tantos filmes dirigidos por homens, tivemos o singelo longa “Entre Mulheres”, dirigido por Sarah Polley, que venceu o prêmio de melhor roteiro adaptado, e cuja estória traz um forte relato contra a opressão masculina.


Lançado em 2022, Entre Mulheres é baseado no livro homônimo da autora Miriam Toews e se inspira em eventos reais ocorridos na colônia Manitoba, na Bolívia. Temos então um grupo de mulheres que vivem em uma comunidade religiosa isolada e descobrem que os homens da comunidade vêm dopando e estuprando parte das meninas e mulheres que ali vivem. Certa noite, uma delas, mesmo com efeito de anestésicos, consegue ver seu agressor e assim capturá-lo.


Porém, as regras daquele lugar são ambíguas e nem sempre esses agressores recebem penalidades justas. Diante da situação, as mulheres têm três alternativas: ficar e não fazer nada, ficar e lutar, ou partir e construir uma nova vida em um lugar novo. E isso é algo que, juntas, devem decidir.


Como o tempo não é favorável, elas se reúnem em um galpão e discutem o futuro de todas. A maior parte do longa vem do ato da fala, o que para alguns pode não ser atrativo. Porém, para além das aparentes sequências de diálogos entre mulheres, existe toda uma construção cênica que revela camadas profundas de tudo aquilo o que as moças querem esconder ou esquecer. E quem estiver disposto a ouvir, talvez compreenda o quanto a voz e a oralidade é importante para essas mulheres.


O filme se inicia com a seguinte informação: “Esta história é fruto da fértil imaginação feminina”. Isso resume um pouco do espírito da obra e daquilo o que ela tem a dizer. A obra traz as dores femininas e seu sonho de mudança em primeiro plano. Nessa estrutura, existe uma dureza, sobretudo nas dimensões do quadro e nas cenas no interior do imenso galpão que as abriga durante as extensas reuniões realizadas noites seguidas. Mas, além das cores saturadas, pouca luz e uma atmosfera triste, a diretora nos dá respiros de liberdade através de uma câmera que passeia pelos campos e acompanha as crianças brincarem. Este pode ser considerado a existência de uma esperança.


A figura do masculino no filme, é sim a do inimigo, porém a figura do Austin, professor dos meninos da comunidade, mostra que no âmbito do masculino também pode existir sensibilidade e brandura. Algo que ainda pode ser passado para as novas gerações em um ambiente onde a voz feminina é respeitada.


Não podemos dizer que entre as mulheres do filme não exista divergências, várias cenas mostram o quanto elas são diferentes em opiniões, mas aqui, os embates estão dentro de uma civilidade que nunca uma desvalida a fala da outra. E não podemos dizer que estas mulheres, por mais que não saibam ler ou escrever, sejam ignorantes. Há muita sabedoria no que elas dizem e fazem, pois tudo o que expressam visam o bem comum.


Mas será que há esperança para essas mulheres? Será que há algum lugar em que possam construir uma vida mais digna? Será que há esperança para nós aqui na realidade, onde todos os dias mulheres são estupradas, espancadas ou mortas? Só nos cabe sonhar por um mundo melhor.


Dirigido por uma mulher, com elenco majoritariamente de atrizes, e com roteiro que dá voz às mulheres, colocando em primeiro plano suas dores, desejos e sonhos, temos uma confirmação do quanto Entre Mulheres é, sem dúvidas, uma das obras mais fortes, bonitas e necessárias de todo o cinema de mulheres.


3 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page