De uns anos para cá, a indústria cinematográfica se interessou em produzir alguns filmes com protagonismo feminino. Pensando em Hollywood, onde essas iniciativas são mais raras, notamos que a indústria cinematográfica convencionalmente até tem adotado o tema nas suas produções. Surgiram produções voltadas para as mulheres, mas que infelizmente não tiveram tanto sucesso. A iniciativa de ter mulheres protagonistas é positiva, porém ainda há muito o que se analisar quanto ao desenvolvimento dessas estórias e personagens.
Dois filmes feitos para o público feminino e que fazem contraponto a produções voltadas ao público masculino são: Caça-Fantasmas de 2016 e Oito Mulheres e um Segredo de 2018. Ambos chamam atenção por trazerem histórias de grande sucesso, agora em uma versão feminina. É quase como uma resposta para a pergunta: Como seria este filme se os protagonistas fossem mulheres? Porém, tanto Caça-Fantasmas de Paul Feig, quanto Oito Mulheres e um Segredo de Gary Ross, não conseguiram atingir o mesmo potencial dos longas feitos por Ivan Reitman e Steven Soderbergh.
O filme Caça-Fantasmas começa quando Erin Gilbert é demitida da Universidade de Columbia. A personagem perde o emprego devido a divulgação de um livro em que ela, e sua amiga Abby Yates, tentam comprovar cientificamente a existência de fantasmas. As duas amigas são acompanhadas por mais duas mulheres, a engenheira Jillian Holtzmann e a funcionária de metrô Patty Tolan. Juntas, formam uma equipe para combater e estudar fenômenos paranormais.
A trama do filme é semelhante ao do longa de 1984. Nesta versão, o universo do longa original é totalmente desconsiderado, já que ainda não há comprovações de que o mundo sobrenatural existe. Com isso elas precisam ganhar a credibilidade das pessoas para comprovar sua tese. O que gera maior incômodo no longa é o fato do roteiro usar e abusar de piadas bobas, e não desenvolver mais as personagens e suas relações. Na maioria das vezes, essas figuras agem de forma imatura, fazendo piadas ruins, e comentários desnecessários. Isso as desqualificam, e afetam nos momentos que desejam ser levadas a sério como cientistas.
O filme teve muitos comentários negativos nas redes sociais associando seu fracasso à escolha de protagonistas mulheres. Porém isso não é verdade. O filme fracassou quando não deu significado para essa escolha, deixando de dar importância para ela dentro de sua narrativa.
O fato de serem mulheres dentro da ciência, abre caminhos interessantes, mas que o diretor opta por não explorar. O filme poderia mostrar os obstáculos que surgem dentro da profissão de maioria masculina, ou até mesmo reforçar a importância de existirem projetos com elenco feminino. Mas ao invés disso, o roteiro e a direção dão um passo para trás, criam situações vagas, e fazendo as mulheres reagem de maneira semelhante.
No filme Oito Mulheres e um Segredo, temos a personagem de Sandra Bullock, Debbie Ocean, irmã de Danny Ocean da trilogia. Ela entra em regime condicional após cinco anos na prisão. Em seus anos em cárcere, a ladra teve tempo de sobra para planejar a execução de um grande roubo. Ao sair da prisão, ela começa recrutar uma equipe para roubar um colar de diamantes que vale 150 milhões de dólares. A moça já havia pensado em tudo.
O filme possui um ritmo rápido, isso é percebido na sequência de apresentação das integrantes da equipe, todas mulheres. Quando se trata do desenvolvimento das personagens femininas, o que intriga é o apelo aos estereótipos. (Se você quiser saber mais sobre os estereótipos, temos um vídeo no canal que fala sobre alguns deles). As personagens são tipos pouco desenvolvidos, mas o filme deixa claro ao seu espectador, de que elas são muito boas em suas respectivas áreas, não deixa dúvidas de que conseguiriam executar o plano.
O filme se desenvolve muito rápido, e mal vemos o desenvolvimento das estratégias para o roubo. A execução também é rápida, e com tensões insignificantes. Sem grandes surpresas, elas conseguem o que desejam e muito mais. Até o que seria um obstáculo, como a figura do investigador profissional, se torna algo fácil de ser manipulado.
As saídas simples e o roteiro com poucas tensões, me fazem questionar a verossimidade dessas personagens.
Normalmente essas personagens são consideradas “girlpower”, mas o que realmente faz realmente uma personagem feminina ser considerada forte?
Pensando nisso, lembrei de outras personagens femininas. Elas possuem um forte potencial por causa do que passam durante a narrativa do filme.
O que dá força a um personagem, sendo homem ou mulher, não é a sua capacidade de conseguir ultrapassar o obstáculo com facilidade, mas sim o desenvolvimento até ele conseguir. Neste caminho traçado por ele, é importante que entendamos suas fraquezas, vemos suas falhas, e suas quedas. Sua força vem da capacidade de resiliência, e de superar seus limites. Vencer não significa ser forte, mas sim cair e conseguir levantar e continuar.
Ainda continuam aparecendo longas-metragens como o mesmo padrão dos Caça-Fantasmas de 2016 e do Oito Mulheres e um Segredo. Filmes que debruçamos expectativas por terem um elenco majoritariamente de mulheres, mas que decepcionam pelas mesmas razões.
Trazer mulheres para a tela em histórias sem obstáculos e sem conflitos, justificando ser uma obra feminina, é desrespeitoso. O público feminino merece boas narrativas em todos os gêneros, tramas complexas, personagens vigorosos e um olhar sensível.
Filmes:
Oito mulheres e um segredo
Ano: 2018
Direção: Gary Ross
Ghostbusters
Ano: 2016
Direção: Paul Feig
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