LEVANTE (2023)
- raianecfferreira
- 19 de fev.
- 2 min de leitura

O filme me surpreendeu de forma positiva. Eu realmente gostei da perspectiva madura que Lillah Halla constroi a trajetória da protagonista. O drama não é nada simplório, apesar de haver um dilema bem comum na vida real que já foi retratado de tantas maneiras no cinema.
“Invisível” (2017) de Pablo Giorgelli, “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre” (2020) de Eliza Hittman e “O acontecimento” (2021) de Audrey Diwan, são alguns filmes que tratam da questão da gravidês indesejada de adolescentes. E Levante se enquadra nesta lista, porém a diretora consegue trazer o tema e falar de diversidade e amizade feminina sem se apegar tão somente a uma representação celebratória.
Levante trás um grupo de meninas que fazem parte de um time de vôlei. A parceria e energia entre elas é posta logo de início pelas cenas descontraídas. E é legal perceber a naturalidade das performances, que corrobora para entendermos que essas garotas existem na vida real, de forma natural e fluida.
O tom descontraído muda a partir do momento em que Sofia descobre que está grávida alguns dias antes de um campeonato no qual pode mudar sua vida. Seu desespero é tanto que a moça procura diversas formas de abortar. Essa saga de Sofia vai tomando proporções grandes, a ponto de terceiros acabarem se “intrometendo” em um assunto tão particular. Entendo que a diretora segue por este caminho justamente para pontuar as complexidades que envolvem aboto, em que cada eixo social (religião, mídia, medicina, política, etc) possui uma conceção sobre o assunto, e, muitas vezes o que menos interessa é o indivíduo envolvido nesta questão.

Um ponto positivo é que o roteiro consegue equilibrar bem a carga dramática em seu longa, não há excessos neste ponto. Um exemplo é a dinâmica familiar. A figura paterna aqui não surge como algoz, como é comumente retratado. O drama do filme não apela para discussões desgastantes, ele parte da própria complexidade da situação da jovem, da rejeição da gravidez, dos estigmas, da hostilidade do tratamento a pessoas que procuram o aborto e da falta de opções mesmo tendo apoio dos mais próximos.
Apesar destas boas escolhas, me incomodou a exposição dos corpos femininos na tela e o desfecho que me pareceu óbvio. Eu entendo que a diretora deseja mostrar a diversidade de corpos, mas a repetição fora de contexto causa esvaziamento do discurso, e a imagem dos corpos se banhando, por exemplo, não possui sentido direto para a narrativa. E o filme vai caminhando para seu final trágico, mas sem força expressiva.
Mesmo assim, eu considero “Levante” um bom filme, principalmente por conseguir modular bem o drama, diferente de muitos filmes que se apegam a estruturas cansadas pautadas em conflitos relacionais, sem se aprofundar nos dilemas reais. Levante não se aprofunda muito, e nem deseja impor um ponto de vista mais incisivo sobre o assunto, mas, pelo menos, consegue ter uma estrutura narrativa mais coesa naquilo que propõe.
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