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MORTE MORTE MORTE | HUMOR E O TERROR. AMIZADE E RIVALIDADE


Os filmes de terror estão em grande destaque atualmente, principalmente quando possuem humor ácido ou críticas sociais. Não é à toa que filmes como Midsommar (2019), Corra (2017) e O poço (2019) tenham alcançado positivo retorno tanto de público quanto da crítica. O trabalho mais recente nesta linha, e que está dividindo opiniões, é o filme Morte Morte Morte. Segundo longa-metragem de Halina Reijn, o filme lida com aspectos do gênero fazendo correlações diretas a muitas questões contemporâneas.


Morte Morte Morte (2022) acompanha um grupo de sete jovens que se reúnem em uma grande mansão para uma pequena farra que acaba em uma tragédia cômica. O longa começa mostrando a relação recente entre Sophie (Amandla Stenberg) e Bee (Maria Bakalova), que demonstram estar apaixonadas. Juntas, vão ao encontro dos amigos de Sophie, entre eles estão: David (Pete Davidson) e sua namorada Emma (Chase Sui Wonders); Jordan (Myha’la Herrold); a divertida Alice (Rachel Sennott); e o seu namorado mais velho, Greg (Lee Pace).


Na dinâmica deste encontro há muita bebida, drogas e uma brincadeira estranha chama “Bodies Bodies Bodies“. Realizado como um jogo de assassinato em que cada um pega um papel aleatório. Quem assumir o papel do "Assassino" deve matar as vítimas, enquanto todos tentam desvendar o mistério de quem está realizando as matanças. Porém a prática da brincadeira rompe as barreiras da vida real e inicia as suspeitas de que alguém realmente seja um assassino.


Ainda que os personagens passem uma noite festejando sem a supervisão dos seus responsáveis, a estória encarna uma atmosfera de tensão constante. Um estranhamento que se desenvolve desde as intrigas de David com o namorado mais velho da irmã, por conta da sua masculinidade mal resolvida, ou até mesmo dos choques existentes entre as amigas. O jogo apenas tensiona mais questões mal resolvidas entre o grupo, e tudo isso vai seguindo uma crescente de desconfianças e brigas durante uma noite inteira.


No campo da forma, o filme possui uma fotografia que brinca com luz e a sombra. Preserva detalhes que fazem a estética do filme se destacar, assim como a atmosfera densa que se caracteriza pelas ambiências da casa, pelo traço temporal que causa a falta de energia e dos entraves entre as garotas. Mas a narrativa de suspense, no entanto, não consegue gerar expectativas, já que os acontecimentos em torno das mortes e da dúvida sobre o assassino se repetem por todo o trabalho.


Focando nas relações entre os personagens, há visivelmente uma linha tênue entre amizade e rivalidade que vem à tona quando as jovens são levadas ao extremos de suas emoções. A personalidade enfadonha das meninas é proposital, talvez não por aquilo que elas são, mas pelo que representam, talvez uma classe rica e uma geração fútil, talvez seja isso que a direção do filme deseja falar.


Através dos diálogos, percebe-se que o roteiro escolhe palavras exatas para criticar sarcasticamente posicionamentos de uma juventude que tem consciência sobre as militâncias. Algo que, a meu ver, soa raso chegando a ser um pouco reacionário e sem sentido, já que fazer piadas sobre pessoas que fallam sobre saúde mental não é algo razoável. Não é engraçado. O filme também fala das questões de classes, de jovens milionários, sem limites e hipócritas por quererem parecer algo que não são. Uma pena que o filme não se aprofunda nestes aspectos.


Talvez Reijn não soube equilibrar bem o humor e o terror junto à crítica que desejava fazer em Morte Morte Morte, diferente de obras como “Pânico” (1996) de Wes Craven, “Arraste-me para o inferno” (2009) de Sam Raimmi e “Sinfonia da necrópole” (2014) de Juliana Rojas. Filmes que se destacam por utilizar os códigos do terror para construir uma narrativa cômica que quer satirizar aspectos do próprio gênero de modo muito mais virtuoso e consciente das suas potencialidades narrativas.


Assistir um looping de medo, insatisfação e mortes não chega a ser apavorante e nem engraçado. Ver as garotas brigando diante das suspeitas de alguma delas ser assassina é de fato bizarro. Elas se voltam umas contra as outras e percebemos que todas têm o potencial para matar. Mas nada disso chega a gerar uma reação forte no espectador, um elemento que, infelizmente, assiste toda a confusão até o seu desfecho.


Título Original: Bodies Bodies Bodies

Diretora: Halina Reijn

Ano: 2022

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