Direção: Karim Aïnouz | Ano: 2024 | País: Brasil
Do que é feito o destino? Será que podemos mudá-lo? Heraldo parece querer desafiar o seu. Depois de ser ameaçado de morte por causa de uma dívida, ele se refugia em um Motel de beira de estrada onde conhece Dayane. Os dois se aproximam e vivem uma paixão proibida, situação que os coloca em risco, pois Elias, marido de Dayana não é um homem nada amigável.
Motel destino não possui uma trama inovadora, pois, no fim das contas, se trata de uma história de amor com tonalidades trágicas. O amor aqui vem do carnal, do sexo, do proibido, mas também vem de uma identificação mutua entre os amantes. Diante das más escolhas que só geram problemas, Heraldo não vê perspectivas de futuro naquele lugar, assim como Dayana dentro de um relacionamento tóxico e um emprego sufocante.
Posso dizer que o principal ponto positivo desta obra, é o entrosamento entre os atores. Dá para perceber o trabalho delicado que Karim Aïnouz faz com os corpos na cena, ele parece proporcionar uma liberdade diante da construção dos personagens em conjunto com os atores. Não há como não ficar hipnotizado por essas figuras.
Também é interessante como o diretor lida com a violência. Há apenas indícios dala, nunca é posto na tela de forma explícita, mas ela está ali rondando os espaços, os diálogos, e os sonhos dos personagens. Até uma situação de lazer e descontração possui tensionamentos que afetam a pele daquelas criaturas. Até as cores vibrantes parecem acionar os sentidos do público de forma violenta e desconcertante.
O que me intrigou foi o discurso sobre destino no qual o protagonista afirma fugir da morte. Embora seja uma fala potente, não me pareceu coerente com o trajeto que acompanhamos do personagem. Penso que para isso, deveríamos ter visto uma série de eventos no qual Heraldo realmente se encontra em perigo, mas o que vemos são decisões originadas pela imaturidade de um jovem homem que aprendeu a lidar com sua dura realidade.
Então, volto a pergunta do início: Do que é feito o destino? Quando aceitamos que o futuro está determinado, estamos falando de destino, mas o que vejo na narrativa de Motel Destino, é Destinação, no qual se determina durante os acontecimentos, as decisões que nos levam a um fim que estamos escrevendo todos os dias.
Heraldo e Dayana podem achar que foi o destino que os levaram a esse encontro, mas, penso que foi suas próprias escolhas que os levaram a isso. Este é um pensamento mais maduro sobre a vida e sobre a força que o ser humano tem de mudar sua realidade e construir seu próprio futuro.
Comments