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"MULHER-MARAVILHA 1984" ENTRE O DESEJO E A ILUSÃO


Tivemos no fim de 2020 a estreia do filme Mulher-Maravilha 1984 nos cinemas, uma nova aventura da heroína agora na década de 1980. Com direção e roteiro de Patty Jenkins, o longa é um blockbuster de aventura e também um filme de época. A expectativa em torno da obra era alta e o resultado após o lançamento tem sido uma certa dualidade na opinião do público e da crítica.


Por mais que o filme cause controvérsias, há alguns tópicos interessantes que fazem desta obra uma boa iniciativa com uma temática atual, e que geralmente, como todo grande investimento cinematográfico, possui seus pontos positivos e negativos.


Vivendo uma vida solitária na cidade de Washington D.C, Diana Prince (Gal Gadot) trabalha como arqueóloga em um museu. Em um dia comum no trabalho, ela conhece a recém-funcionária Barbara Minerva (Kristen Wiig), uma tímida e atrapalhada cientista que admira Diana por ser o exemplo de mulher a que ela aspira.


Após um roubo, uma pedra misteriosa vai parar no departamento em que Bárbara e Diana trabalham. Porém o objeto deveria estar nas mãos de Max Lord (Pedro Pascal), um ambicioso vigarista que vende promessas de sucesso para pessoas na mídia norte americana. Lord deseja sair da falência e se tornar rico e poderoso. Entre esses objetivos, ele busca também oferecer uma vida melhor para seu filho.

Os elementos catalisadores são os desejos feitos a pedra dos sonhos e suas consequências. Essa é, portanto, uma crescente que dá corpo à narrativa. Sem saber sobre o poder do artefato, Diana e Barbara colocam suas vontades à prova. Mas os problemas crescem quando Max quando Max toma posse da pedra.


Por se tratar de uma história que se passa nos anos 1980, muitos espectadores provavelmente esperavam um filme mais colorido e divertido, com referências mais fortes do período. Porém isto não é um problema já que a direção não usa esse artifício para justificar uma exposição temporal.


As cenas de Diana com Steve são um respiro para o longa, já que trazem um tom cômico e romântico (e não necessariamente bobo) ao filme. Este fato demonstra que o desejo da protagonista é genuíno. Diferente dos demais, porém, todos os seus desejos têm consequências, e aos poucos a heroína vai perdendo seus poderes. Perda essa que está relacionada ao desejo que ela opta fazer, mesmo que modo indireto.


Muitos espectadores não conseguem se relacionar com as personagens fortes por elas são irreais. Não possuem grandes falhas ou fraquezas. É por isso que mostrar a poderosa Mulher-Maravilha vulnerável traz aspectos realistas a essa figura, causando empatia no público, até mesmo com a performance pouco inspirada de Gal Gadot.

O personagem de Kristen Wiig neste filme não se qualifica como cômico, diferente dos outros papéis da atriz. Barbara, por não gostar de ser quem é, deseja desfazer-se de suas características engraçadas para ser levada "a sério" pelas pessoas

Seu desejo é o de ser atraente e indestrutível como uma heroína.


Igual a ela, muitas meninas fazem das heroínas, como Mulher-Maravilha, o ideal da mulher que desejam ser, já que são símbolos femininos moldados nos padrões de beleza criados por uma sociedade que se baseia em valores deturpados como o machismo, por exemplo. Essa é uma conjuntura que impacta diretamente no imaginário coletivo contemporâneo. E o desejo de se encaixar nesses padrões não é saudável para as mulheres.


Outra crítica que tem sido apontada ao filme diz respeito ao antagonista. Acredito que a figura do vilão no cinema, sobretudo aquelas propostas pela Marvel e DC, pautam uma grande questão a se pensar. Dado isso, o comum é observarmos a figura perversa, imbatível, com poderes sobrenaturais e que faz tudo para alcançar os seus propósitos.


Galactus, Darkside e Thanos são exemplos de vilões super poderosos do mundo dos quadrinhos. Porém, temos em MM 84 um homem comum como antagonista. O que faz Max Lord um indivíduo mau é sua ambição e fome de poder absoluto. E os exemplos de pessoas com esse traço são inúmeros.

O fato de trazer um vilão humano, com características tão comuns do mundo em que vivemos, é o que faz este trabalho atual e necessário. Produzido às vésperas da corrida presidencial entre Trump e Joe Biden, podemos interpretar ainda, que MM 84 nos exemplifica (mesmo que de modo até ilustrativo demais) as consequências do que uma política como a de Trump pode causar na geopolítica do mundo como vivemos.


A pós-verdade, que se trata de enxergar o mundo do jeito que se deseja, usada por Trump e por Bolsonaro em suas campanhas, é um subtexto do filme. O tema está presente na construção do seu enredo a partir da ideia de como a ilusão pode acabar com a sanidade de uma pessoa. E isso está bastante evidente na figura de Max Lord.


As conquistas de Max enquanto ele mantinha poderes quase ilimitados não se tratavam de apenas uma ilusão. O caos causado no mundo fruto desse poderio é reflexo disso. E ele, por ser humano e estar inserido no mesmo contexto dos demais, não está ileso aos conflitos que afetam o planeta, ele só precisava ser acordado para a realidade.


Existe na história da humanidade desejos que levaram o mundo ao colapso. Os objetivos insanos de alguns homens geraram guerras, sofrimento e morte. Então, não precisamos de vilões sobrenaturais para causar destruição, ou heróis de outros mundos para nos salvar, pois o ser humano por si só já ocupa estes dois papéis.




Título: Wonder Woman 1984

Direção: Patty Jenkins

Ano: 2020

País: EUA

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