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NÃO SE PREOCUPE QUERIDA | POTÊNCIAS E FRAGILIDADES NO TRATO COM O CINEMA DE GÊNERO


As polêmicas envolvendo o mundo do cinema são inevitáveis. Hora ou outra algum filme ou artista aparece envolvido em algum escândalo ou rumores que chamam atenção da massa para além daquilo o que a obra fílmica estabelece por si mesma. Foi o que aconteceu com o filme “Não se Preocupe, Querida”, segundo longa de Olivia Wilde, e que mesmo antes de sua estreia, já concentrava boatos de choques entre o elenco nos bastidores. Mas para além da polêmica, iremos focar aqui no que a obra estabelece além do apelo do seu elenco por trás das câmeras.


Olivia Wilde deixa de lado a atmosfera leve e divertida de trabalhos anteriores, como Fora de Série, para fazer um suspense Sci-fi que discute papéis sociais de gênero. Temos aqui a história de Alice (Florence Pugh) uma dona de casa que vive feliz no subúrbio estadunidense ambientado nos anos 1950, até que ela começa a desconfiar das pessoas ao seu redor e aos poucos desvenda os mistérios envolvidos naquele lugar.


Não se Preocupe, Querida, assim como “Fora de Série”, tem o roteiro de Katie Silberman, mas diferente do anterior, este sofre um pouco com a perda de ritmo. O trabalho possui mistérios e propõe reviravoltas para explicar as estranhas visões de Alice e seus lapsos de consciência. O roteiro demonstra pouca habilidade para desenvolver uma construção gradual que trabalhe camada por camada a jornada da protagonista à realidade.


Na contramão disso, o universo dos personagens e as suas caracterizações condiz com a época em que o filme se situa. Aliado a isso, notamos que os papéis de gênero são bem enfatizados. Enquanto a esposa cuida dos afazeres domésticos, o marido sai para trabalhar e garante a proteção da sua mulher. A montagem mostra estas relações através da repetição, onde o jogo da rotina vai ficando cada vez mais de lado quando começam a surgir comportamentos estranhos na vizinhança.


Apesar de uma fotografia belíssima e do design de produção que destaca aspectos da década de 50, e uma proposta de trazer uma história complexa sobre invasão de livre arbítrio e direito das mulheres, o longa ainda permanece no lugar comum. Algo reforçado pelas referências óbvias que soam quase como uma repetição mal feita de Alice no País das Maravilhas, Mulheres Perfeitas (The Stepford Wives, 2004) e The Twilight Zone.


A escolha por não explicar tudo no filme é boa até certo ponto, quando a diretora decide por mostrar o que está acontecendo de fato com Alice. Algumas partes no roteiro poderiam ser mais elaboradas, como por exemplo, a forma automatizada da vida dos personagens, a existência do Projeto Vitória, o objetivo do vilão e a fidelidade de sua esposa, dentre outras questões que eu gostaria de ter visto mais ao decorrer da narrativa.


Os personagens desta obra possuem pouca profundidade, com exceção da heroína. Pugh conseguiu trazer para Alice uma performance excepcional, que segura a atenção do público apesar das falhas que o filme tem na construção dos demais Indivíduos. A começar pelo próprio papel de Wilde, que interpreta Bunny, uma mulher que aparenta um estar feliz e que mantém amizade com Alice. Porém sua face é dúbia e não conseguimos saber de que lado ela está. O marido, interpretado por Harry Styles, pouco tem força na história, apesar de ter sido o motivo de tudo o que a protagonista vive, o personagem não consegue grande destaque, o que só evidencia a inexperiência e inexatidão interpretativa do cantor no trabalho


Porém, algo interessante aparece quando vemos Pugh e Chris Pine contracenando juntos. Os dois foram capazes de adicionar nuances interessantes a diálogos superficiais, e consegue expor a rivalidade e a tensão que existe entre o vilão Frank e a mocinha. No entanto, a falta de aperfeiçoamento na construção do antagonista faz com que este tenha um papel quase descartável na história. Em um momento Frank surge como uma grande ameaça, mas em outro ele é facilmente vencido.


Infelizmente “Não se preocupe, Querida” não consegue entregar o que promete, deixando a desejar nas suas escolhas narrativas. Diferente de outras obras que conduzem bem o suspense e a ficção científica, como por exemplo “O homem invisível” (2020) de Leigh Whannell e “Swallow” (2019) de Carlo Mirabella-Davis. Apesar de ser um grande projeto e de ter uma boa premissa, no final, a única coisa que opera em primeiro plano no filme são as polêmicas durante as gravações, mas como obra cinematográfica, não soube dar o que o universo do thriller e sa ficção-científica necessitava.



Título original: Don't Worry Darling

Ano: 2022

Diretora: Olivia Wilde


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