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O HOMEM IDEAL | O ROMANCE, A MÁQUINA E A VIDA


O gênero de romance tende a agradar o público, mesmo que as produções estejam mais direcionadas ao universo feminino. A sociedade agrega as mulheres à saga da busca por um amor, assim, inúmeros filmes abordam a busca que as moças têm para encontrar seu parceiro ideal. Figura essa que, na maioria das vezes é o homem, já que a normatividade ainda domina o imaginário coletivo. Diante disso surge a pertinente obra “O Homem Ideal", dirigido pela alemã Maria Schrader, que aborda com bastante desenvoltura algumas questões sobre o romance no mundo contemporâneo.


“O Homem Ideial”, produção escolhida como representante Alemã para o Oscar de 2022, é uma ficção cômica e divertida, que não tem medo de assumir camadas complexas para propor um pensamento filosófico sobre a humanidade, o avanço tecnológico, a solidão e as relações amorosas do mundo contemporâneo.


Nele, acompanhamos Alma Felser (Maren Eggert), uma pesquisadora que trabalha no Museu Pergamon em Berlim e que está com dificuldades para financiar sua mais recente pesquisa. Com isso, ela é estimulada a participar de um experimento no qual terá de conviver três semanas com uma inteligência artificial humanóide, elaborada para ser seu parceiro perfeito. E é assim que conhecemos Tom (Dan Stevens).


O longa é atraente e cativante, de modo que seu convite é o de nos chamar para dentro da narrativa a fim de que possamos acompanhar o incomum casal para saber se de fato a protagonista irá se apaixonar pela fascinante máquina. E para além da narrativa clássica, a diretora consegue brincar com os clichês do romance sem perder o propósito reflexivo do trabalho, indo além do que se espera de um “filme de amor”.


Ainda que para muitos a proposta pareça tentadora, Alma não cai nas graças do lindo e gentil robô que está disposto a ser para ela tudo o que alguém pode esperar de um parceiro romântico. E diferente de Theodore no filme “Ella”, do diretor Spike Jonze, Alma possui uma opinião bem lúcida sobre aquilo que faz um relacionamento real.


A história se passa apenas em três semanas e se assemelha a um filme padrão de romance, mas não soa previsível como muitos. O público é levado a desconstruir todos os conceitos já rotineiros do gênero e acompanhar um olhar mais maduro para com as questões amorosas. E com relação ao gênero de ficção científica, aqui se ousa um pouco mais para mostrar o ser humano e a máquina em outras camadas, estimulando novas reflexões para com a tecnologia e o mundo orgânico.

Essa é uma construção que se estabelece muito a partir da dinâmica do incomum casal que são o condutor da história. E já que a trama abre espaço para o púbico criar e fazer associações espontâneas, pode-se até entender que um representa a alma e o outro o corpo. Alma seria o coração, a emoção e o sentimento. Em contrapartida, Tom seria a praticidade, a assertividade e a disciplina.

É interessante notarmos também o quanto o filme opera bem a ideia da interação dessas personagens sem necessariamente soar panfletário em favor do que seria um “relacionamento ideal”. O objetivo aqui é realmente o acompanhamento da narrativa da mulher como protagonista da sua história dessa pessoa que entende que sua felicidade está muito mais ligada aos anseios da sua própria pessoa que a desse outro. O olhar da mulher não se direciona para qualquer busca de uma perfeição alienante. receber o que a vida pode lhe entregar torna-se a questão aqui.


Neste trabalho a tecnologia surge como uma espécie de versão melhorada do ser humano, algo que a humanidade não conseguiu se tornar ou transpor. Porém, falta a parte vital das criaturas na qual a máquina não possui. Perante uma sociedade solidária e repleta de patologias, uma questão surge: por que a conexão emocional entre as pessoas se torna algo tão difícil de se estabelecer a ponto de uma programação ter que assumir o lugar de um ser real.


De certa forma o filme procura instigar o seu espectador a estas questões, mas não procura respondê-las. Na verdade, a resposta talvez esteja na interpretação de cada espectador. E é por isso que “O Homem Ideal” é uma obra genuína que não se rende às armadilhas dos gêneros e propõe reflexões profundas que nos faz questionar se estamos percorrendo o caminho correto em nossas relações afetivas.


Direção: Maria Schrader | Ano: 2021 | País: Alemanha


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