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O HOMEM INVISÍVEL | O TERROR DO RELACIONAMENTO ABUSIVO


O gênero de Horror sofreu muitas mudanças durante os séculos, isso acontece por que ele acompanha os temores de cada geração. Os avanços tecnológicos, as mudanças climáticas, as relações abusivas, as doenças da mente são temáticas que estão cada vez mais em pauta no cinema desta categoria, indo além dos filmes de assombração ou de monstros. Pensando nisso, Hoje iremos falar do filme “O Homem Invisível” de 2020 dirigido por Leigh Whannell.


A nova adaptação da obra de H.G. Wells carrega um aspecto diferente das anteriores 'O Homem Invisível' de 1933 e 'O homem sem sombra' de 1996. O terror e a ficção-científica ainda aparecem na narrativa, porém agora temos uma temática diferente das anteriores, já que a problemática do drama surge do relacionamento abusivo.


Na trama acompanhamos Cecília Kass, uma mulher que consegue fugir de seu marido, Adrian Griffin, um rico cientista especializado, controlador e agressivo, e que está se recuperando do trauma. Porém, após receber a notícia do suicídio de Adrian a jovem começa a ser peseguida por algo invisível e passa a duvidar que o rapaz esteja realmente morto, por conta disso, seus senso de realidade começa a ser questionado.


O filme evita efeitos visuais excessivos e também os clichês do gênero, mas brinca com a estética adotada pelos filmes de fantasma, inserindo no início a possibilidade de Cecília estar sendo assombrada pelo ex-marido. E neste sentido a obra tem uma crescente que prende a atenção do espectador gerando tensões através do suspense.

Desta forma, temos neste trabalho um desempenho interessante da fotografia, com direção de Stefan Duscio, que pensa cada plano, ângulo, movimento de câmera diante das inúmeras ameaças, confrontos e movimentação dos personagens. A forma como a iluminação, a profundidade de campo e os elementos estéticos são usados reforçam a atmosfera angustiante do filme, sendo desnecessário o uso do famoso jumpscare.


Outro ponto interessante é como a direção consegue trabalhar o inimigo invisível não só como um ser que está causando terror no ambiente, mas como uma ameaça física e que vai tomando forma ao decorrer da trama. Com isso, o vilão sai do lugar da abstração podendo também ser atingido durante as batalhas.


Porém, um ponto que pode ser problemático é o fato do personagem Adrian ser pouco desenvolvido, carregando apenas o estereótipo do cientista bilionário sociopata e maluco. Este fato não necessariamente atrapalha na história, apenas reforça o quanto aquela figura é ameaçadora, principalmente para a Cecília que é sua vítima direta.


Mas com a personagem principal é diferente. Temos aqui uma protagonista bem complexa, não só pelo trauma da relação abusiva, mas pelas barreiras que ela precisa quebrar para conseguir enfrentar e superar a si e ao seu antagonista. Com isso ela pode ser considerada uma mulher forte. Muitos acham que uma personagem forte é aquela que demonstra ser imbatível, mas na verdade estes personagens são superficiais.

São muitos os filmes com protagonismo feminino que tendem a construir personagens fortes apenas por assim serem, usando estereótipos. Mas na maioria das vezes, o público não consegue se identificar com elas. Então, em contrapartida temos figuras fortes que demonstram suas fraquezas, que erram, que se machucam, mas depois conseguem superar suas fragilidades. E nesse filme Cecília é um belo exemplo disto.


E não podemos tirar o mérito de Elisabeth Moss neste papel. Sua performance consegue tocar e comover o espectador para os desafios sofridos pela personagem. Cecília é a representação de uma mulher fragilizada por um relacionamento danoso, e precisa superar os vestígios que ficaram em seu ser, além de enfrentar a própria perseguição do ex que não aceita ser abandonado por ela.


Não é à toa que a temática de abuso apareça em filmes do gênero, pois esta realidade é de fato um pesadelo que muitas mulheres passam ou já passaram. Em 2021 cerca de 17 milhões de mulheres no Brasil foram vítimas de algum tipo de violência seja ela física ou verbal. O que o período pandêmico revela neste contexto é que em sua grande maioria essas brasileiras foram vítimas dos próprios companheiros, dentro ou fora dos seus lares.


Apesar de estarmos refletindo sobre a violência na ficção, a gente lembra que a violência contra a mulher ainda é uma realidade em todo mundo. O nosso papel nesta luta passa pela superação da omissão destes crimes. Faça sua parte, denuncie!





Título Original:

Diretor: Leigh Whannell

Ano: 2020

País: EUA

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