"O porco espinho". A elegância da vida e da morte.
- raianecfferreira
- 10 de dez. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 30 de jan. de 2019

A morte é um mistério para as civilizações desde muito tempo, e ainda é. Muitas pessoas não sabem como reagir a morte de um ser querido, o que gera o luto por dias. Então imagina ouvir uma criança dizer que quer se suicidar. É, seria algo espantoso vindo de alguém que ainda tem muita coisa para viver. Mas é assim que começa o filme O porco espinho da diretora Mona Achache, baseado no romance “A elegância do porco-espinho”, de Muriel Barbery.
O filme traz duas mulheres como protagonista, porém, todo o pano de fundo pertence a uma menina de 11 anos. Paloma (Garance Le Guillermic) é uma criativa e inteligente menina vive com seus pais e irmã num apartamento rico em Paris. Logo na primeira cena a menina liga uma câmera e informa que dentro de 165 dias, quando completar 12 anos, ela irá se suicidar. Além de ter um grande senso de realidade, ela apresenta sua família de maneira sarcástica, colocando que as pessoas de sua família vivem como peixes dentro de um aquário. Dentro de uma família rica, ela tem medo de acabar da mesma forma de sua mãe, (Anne Brochet), depressiva e de sua irmã, neurótica que tenta ser melhor do que os pais. Dentro dos dias que ela tem, ela se dedicar em fazer um documentário que mostra o quanto para ela a vida é absurda.
O ponto de vista que conduz a maior parte da história é o de Paloma, acompanhamos então a sua forma de pensar e de olhar o mundo através de seu objeto criativo, a câmera. As questões da protagonista mirim, e conseguimos nos familiarizar com esse mundo através das imagens que ela capta de sua família, dos desenhos que ela faz, dos eventos que acontecem e dos espaços que ela invade. Enquanto vemos Paloma em sua decisão por morrer, de outro lado temos Renée Michel (Josiane Balasko), a solitária zeladora do prédio que tem uma vida rotineira. Mora em um quartinho no andar de baixo, e dedicasse apenas em seu trabalho, ler seus livros e comer chocolate. A única companhia que tem é de seu gato de estimação. Sua expressão é séria, e não parece ser muito vaidosa, porém as coisas mudam com a chegada de um novo proprietário Kakuru Ozu (Togo Igawa), um simpático japonês que aos poucos se aproxima tanto de Paloma quando de Renée.

Além de trazer o tema da morte, o filme ele trás a solidão como pano de fundo. O título do filme faz lembrar a metáfora do porco espinho de Schopenhauer. No inverno os porcos espinhos se juntam para tentar combater o frio, mas ao se aproximarem eles se espetavam, e isso causava dor, e se distanciaram, mas voltavam a sentir frio se se aproximavam novamente, tornando a sentir dor, e assim seguiam. O ser humano é social por natureza, e sente a necessidade de se aproxima uns dos outros, porém, as relações humanas são cheias de conflitos, e isso causa dor, ocorrendo um distanciamento. No filme, Paloma se sente solitária por não se encaixar na família que tem, filmando e ensaiando a sua morte, enquanto Renée conseguiu tornar a solidão em solitude através da leitura, construindo em sua casa um lugar secreto, só dela, onde guarda seus preciosos livros. E em uma conversa com o sr. Ozu, Paloma compara René a um porco espinho, um animal solitário mas elegante, talvez seja isso que chamou atenção de Ozu para a discreta zeladora.
Os dias passam e Paloma ainda persiste em sua decisão, pois para ela a vida seria um aquário em que estamos determinados a viver apenas para, no final de tudo acabamos mortos dentro de um saco plástico. Porém sua relação com a zeladora cresce em uma linda amizade, e o senhor Ozu também se aproxima de Renée demonstrando seu apreço por ela, e isso a deixa bastante feliz pois ela também sente carinho pelo Japonês. Mas, como a felicidade dura pouco para alguns, enquanto a zeladora faz suas primeiras atividades do dia, um acidente acontece e Renée acaba morta. Sim, uma trágica morte, mas qualquer morte seria trágica, porém esta seria a primeira morte em que Paloma sentiria, e aí entender o que é realmente sofrer a morte de alguém.

Tanto Ozu quanto Paloma sentiriam a falta dae Renée, sim, por que ela era alguém importante para eles, e de certa forma, o que se pode aprender com toda essa tragédia, é que o fato da morte não importa, mas o que se está fazendo quando se morre, e Renée estava feliz pois se sentia pronta para amar de novo. Com isso, O porco espinho é um filme elegante, intrigante ao mesmo tempo que é divertido. Ele trás a perspectiva cativante das descobertas que surgem na infância, diante da alegria das relações humanas que podem surgir de várias formas e intensidades. Trazendo o tema da morte sem exageros e de maneira poética. É um filme simples e belo, que exprime a vida com delicadeza.
Ficha Técnica:
Título original: Le hérisson
Direção: Mona Achache
Gênero: Drama
Origem: França / Itália
Ano: 2009
Duração: 100 minutos
Link para baixar o filme via Torrent: http://cinemasaletequila.blogspot.com/2015/04/o-porco-espinho.html
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