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"Os garotos selvagens", E o poder feminino na transformação do mundo.


E se o mundo fosse feminino? Se as mulheres fossem dotadas de um poder que o homem desconhece e que pode ser a salvação para a humanidade? Temos aí algumas perguntas que instigam para as características do feminino, e que de certo modo é abordado no surpreendente filme de Bertrand Mandico, Os garotos selvagens (2018).


A original obra de Mandico foi vencedora do Grande Prêmio da Semana da Crítica no Festival de Veneza, sendo eleito como melhor filme do ano de 2018 pela revista francesa Cahiers du Cinéma. Os Garotos Selvagens é o primeiro longa-metragem do diretor, mais conhecido por curtas e médias de característica experimental, e suas obras chamam atenção pelo seu estilo próprio, a presença do corpo dos atores nas obras, as projeções feitas durante as gravações.


A princípio o filme apresenta um grupo de cinco garotos, Jean-Loui (Vimala Pons), Tanguy (Anaël Snoek), Hubert (Diane Rouxel), Romuald (Pauline Lorillard) e Sloane (Mathilde Warnier), rebeldes e violentos, que, durante suas peripécias, acabam cometendo a atrocidade de matar uma mulher. Diante deste fato, os rapazes são autorizados a serem levados por um Capitão (Sam Louwyck), cuja fama é disciplinar jovens incontroláveis, deixando-os com um comportamento ameno. Uma jornada longa e misteriosa inicia - se a partir deste ponto.

Os garotos são típicos homens heterossexuais cisgênero, que se expressam o seu privilégio masculino através da violência. O interessante é que o diretor opta por atrizes para interpretar os meninos, o que causa interesse e curiosidade logo nos primeiros planos da narrativa. Porém, esta decisão não é em vão, já que se trata de um filme que propõe abordar os temas sobre identidade, corpo e gênero de um modo mais denso.


O filme se destaca pela sua originalidade. Mesmo possuindo uma narrativa linear, o diretor brinca com dispositivos visuais para causar impacto, enquanto assistimos a trajetória dos personagens. O uso do preto e branco com contrastes, a escolha pela tela com bordas arredondadas, encenações mais teatrais, o surgimento das cores artificiais em certos momentos, as projeções, etc. Tudo isso alimenta o aspecto fantástico e características experimentais da obra, criando assim um clima burlesco.


A jornada dos garotos é desconhecida por eles, pois desconhecem o destino do capitão. Durante a viagem no velho navio, os rapazes tentam, de todas as formas, desobedecer qualquer comando que possa vir dessa figura opressora, já que são tratados como animais, assim como tratavam as criaturas e as mulheres ao seu redor. O filme dá início a sua segunda parte quando os garotos chegam ao seu destino: uma ilha de

características incomuns.

A obra percorre os campos temáticos da masculinidade tóxica, da violência, das crenças, e principalmente, da sexualidade e o que vem dela ou através dela. Este instinto violento é retratado no filme de maneira muitas vezes simbólica. Como, por exemplo, a partir da inserção em determinada sequência, de uma estranha figura com rosto de leão e corpo em um misto de mulher e animal.


Com uma direção de arte inspirada nessas temáticas, é um deleite se perder entre espaços estranhos e simbólicos do filme. Cada vez mais, o espectador é levado para dentro de uma narrativa hipnotizante. A ilha é o objetivo da viagem, ela é um lugar mágico e místico, que sacia a sede dos garotos com seu néctar, e é lá que se sentem um pouco mais livres após os dias no navio.


Eis que surge o doutor Séverine (Elina Löwensohn), uma figura importante na narrativa, pois é nele que está a resposta para as perguntas que o filme gera. Séverine sustenta a teoria de que um mundo feminilizado acabaria com as guerras, e os conflitos de nossa época. Induziu assim, que o Capitão o levasse até a tal ilha que transformava homens em mulheres. “O futuro é a mulher”, diz ele, com isso, deixa-se transformar.

Ao ver os corpos dos meninos em mudança para um corpo feminino, temos aí a grande premissa do filme: os garotos selvagens agora são garotas com uma causa, e uma nova perspectiva de existência. Ser mulher, na visão do filme é ter um poder incomparável e significativo para o mundo. É um privilégio existencial.


Estamos diante de um filme contemporâneo, que proporciona uma experiência que se materializa a partir das questões que nos conduzem no seio do que é ser um sujeito contemporâneo. É certo que Bertrand Mandico queria, além de tudo, proporcionar uma experiência cinematográfica para o espectador, e diante do tema, atingir a curiosidade e interesse dos espectadores. De fato, temos em Os garotos selvagens, uma das grandes obras cinematográficas da história.


Ficha técnica:

Título Original: Les garçons sauvages

Duração: 1 hora e 50 minutos

Ano: 2018

Direção: Bertrand Mandico

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