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OS HOMENS PREFEREM AS LOIRAS | O ESTEREÓTIPO DA LOIRA NO CINEMA


Foi muito reproduzida a ideia de que as mulheres loiras seriam mais desejadas pelos homens por serem mais atraentes. Como consequência disso, criou-se uma convenção de que elas seriam menos inteligentes do que as demais mulheres da nossa sociedade. Apesar das mudanças que ocorrem a cada década, até hoje se repercute esse pensamento ultrapassado e preconceituoso sobre a natureza feminina. Mas de onde vem as configurações do padrão de beleza feminino?


O cinema é um dos veículos de disseminação da cultura de maior alcance. E por conta desta característica ele consegue disseminar ideias por muitos continentes, principalmente quando pensamos numa grande indústria como a de Hollywood. Sobretudo nos dias atuais, os grandes estúdios conseguem ter grande influência entre crianças, jovens e adultos, sendo quase impossível não sermos envolvidos por essas produções. Um dos maiores exemplos da Era de Ouro de Hollywood que ainda tem visibilidade é “Os homens preferem as loiras” (1956), dirigido por Howard Hawks e com a presença da grande estrela Marilyn Monroe.


“Os homens preferem as loiras” é baseado no romance homônimo da norte-americana Anita Loos. A criadora teve a ideia numa viagem de trem quando percebeu que ao seu lado uma loira era bajulada pelos homens enquanto ela, morena, e também precisando de ajuda, tinha de carregar suas bagagens sozinha. Para a produção, foi convidada a jovem Marilyn Monroe, agora loira, para viver o papel de Lorelei Lee, uma dançarina “caça-dotes” que busca apenas a fortuna do seu parceiro.


Na história, ela e sua amiga Dorothy, interpretada por Jane Russell, vão a Paris num cruzeiro financiado pelo noivo de Lorelei. Porém, o pai do rico jovem desconfia das intenções da futura nora e envia um detetive para investigar a situação. O resultado é uma comédia divertida, com muita música e glamour. E de fato, assim como muitos dos trabalhos de Hawks no cinema, o longa é cativante e envolvente, porém, destaca as mulheres pela ótica masculina, generalizada e estereotipada.


A protagonista reflete um imaginário popular, assim como muitas das personagens interpretadas por Monroe. Mulheres essas que se enquadram no estereótipo de “loira burra” e que foi consolidada culturalmente nesta obra. Sua atuação chamou tanta a atenção que a jovem passou a ser convidada a fazer papéis semelhantes. A atriz não era vista pelos grandes produtores com muito crédito para filmes dramáticos, acreditavam que ela ficaria melhor em papéis cômicos, de loira interesseira que flerta com todos. Para os produtores, isso seria o que o público esperaria de uma mulher com a aparência que Monroe encarnava no cinema.


Antes da escolha por Marilyn, a 20th Century Fox pretendia contratar Betty Grable para o papel de Lorelei Lee, porém, depois do sucesso de Niagara (1953) o estúdio decidiu chamar a novata, pois além do seu salário ser menor, acreditavam que ela daria ao filme um maior sex appeal. Podemos dizer que “Os homens preferem as loiras” definiu não somente o estereótipo desse tipo de mulher na cultura, como também acabou atrelando tal traço aos próprios personagens interpretados por Monroe por muito tempo nos cinemas. E mesmo que ela questionasse o rumo que sua carreira tomou, nunca conseguiu mostrar seu verdadeiro potencial como atriz.


Apesar dos rótulos acolhidos pela personagem, ela demonstra um misto de facetas, que passeiam pela ganância e a ambição, a partir de um tom de inocência, já que seu intuito maior é de ter muitas jóias como adereço. Mesmo diante de papéis estereotipados, Marilyn não deixou de satirizar as hipóteses contra sua pessoa. Percebemos que neste papel ela demonstra autoconsciência sobre os personagens masculinos que acreditavam que ela seria muito ingênua. No entanto, em inúmeros momentos, demonstra o oposto desse posicionamento, conseguindo escapar das artimanhas dos rapazes.


Já Dorothy é despreocupada com o dinheiro, se permite ser livre e se relacionar com quem ela quer. Ela é sagaz e mais “pé no chão”. Diferente de Lorelei, sempre questiona os objetivos da amiga, representando, de certa forma, uma parte do público espectador diante do filme. Mesmo sendo opostas, as duas se ajudam e se apoiam sem julgamentos. A grande repressão se dá pelos personagens masculinos como Gus (Tommy Noonan), noivo de Lorelei, ou o investigador Ernie (Elliott Reid). Vem deles a grande malícia e adversidades vividas pelas amigas


Para além de Os Homens Preferem as Loiras e da figura de Marilyn, o estereótipo da loira burra aparece em muitos outros filmes como uma forma preguiçosa da construção do personagem feminino. O resultado disso pode ser lido como a permanência de conceitos inadequados sobre as mulheres, sobretudo na cultura pop. Felizmente, ao longo das últimas, muitas obras vêm propondo uma nova abordagem e perspectiva sobre essa figura da mulher no cinema. Na tela, o que vemos é o protagonismo de mulheres que quebram todos os conceitos pré-concebidos sobre as loiras, como o filme Legalmente Loira (2001) e As Patricinhas de Beverly Hills (1995) que são comédias que fazem uma paródias desse estereótipo.


Outros filmes contemporâneos que desmontam o rótulo desse arquétipo na cinematografia é “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento” (2000) de Steven Soderbergh, no qual Julia Roberts vive o papel de Erin, uma mulher loira que é subestimada por causa de sua aparente inconformidade com o mundo jurídico. Assim como também percebemos a construção de uma figura como a protagonista do filme de Céline Sciamma, “Retrato de Uma Jovem em Chamas” (2020). A protagonista, Héloise, interpretada por Adèle Haenel, é uma prova que a complexidade e altivez da figura feminina pode ser um espelho da potência e indestrutibilidade feminina que reinterpreta o papel da mulher na sociedade ao longo dos séculos.


Mas asi Ideias machistas, infelizmente, ainda são muito difundidas pela indústria cinematográfica. Esse imaginário coletivo criado por ela pode atingir contextos sociais e quando estes se enraízam na memória coletiva, muitas vezes criam um código que nos aprisiona a seus preceitos toda vez que encontramos uma mulher loira, esteja ela no contexto de um filme ou não.


Na maioria das vezes estes tópicos não condizem com a realidade. Mulheres, sejam loiras ou morenas, podem ser sim femininas e inteligentes ao mesmo tempo. Uma característica não exclui a outra, o ser humano não é apenas uma escultura moldada de aparências. Há também aspectos mentais e emocionais que constituem esse ser em toda a sua complexidade. E é por isso que devemos olhar com mais atenção e senso crítico para os filmes que assistimos, para que eles não condicionem nossa forma de estar, ver e ler o mundo.





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