Título original Blink Twice | Direção: Zoë Kravitz | Ano: 2024
No conjunto de filmes recentes de suspense e terror, Blink Twice com certeza é um daqueles que se destacam positivamente. No seu primeiro filme, Zoë Kravitz propõe uma história chocante e cheia de humor ácido com escolhas visuais inventivas que conseguem envolver o público com seus mecanismos de percepção.
O longa acompanha a trajetória de Frida (Naomi Ackie), uma simples garçonete de um baile de gala organizado por famoso CEO de tecnologia chamado Slater King (Channing Tatum). A protagonista parece ser obcecada pelo homem, e seu desejo de se aproximar dele acontece quase que instantaneamente, como se já estivesse “escrito”. Com isso, Frida e sua amiga Jess são convidadas a passar férias na ilha particular do milionário.
No início da estadia, tudo parece um conto de fadas no qual a “gata borralheira” é cortejada pelo “príncipe encantado”. Porém, as coisas começam a desandar, e o tal príncipe vira sapo. Por mais que tudo pareça estar dando certo para a protagonista em seu relacionamento dos sonhos, existem elementos que nos apontam o contrário. As drogas desconhecidas, os apagamentos de memória, as unhas sujas, os hematomas e os desaparecimentos são indícios de que algo obscuro acontece naquele lugar.
A atmosfera de estranheza é tão bem construída que vai aumentando a sensação de desconforto por parte do público. A diretora utiliza flashbacks de forma objetiva e direta que ressaltam eventos da memória das personagens e que dão, cada vez mais corpo àquela narrativa de horror vivida pelas mulheres que ali se encontram.
A diretora parece não querer dar tudo “de mão beijada” aos espectadores, ela oculta algumas informações que, de certo modo, não enfraquecem o desenrolar da trama. Mas, a ideia sobre o perdão retratada pelo antagonista é evidente, já que se questiona a argumentação de que perdoar seria esquecer, sendo que é neste esquecimento que muitos limites são ultrapassados.
É interessante perceber a percepção de Kravitz sobre questões sociais que envolvem o universo feminino, como, por exemplo, a rivalidade entre as mulheres alimentada por ideologias sociais e que são reproduzidas pela própria indústria cinematográfica. Neste filme, são as próprias mulheres que precisam se unir para sobreviver à perversão masculina.
Pensando neste ponto, lembro de filmes como Fresh de Mimi Cave e Bela vingança de Emerald Fennell, que brincam com a ideia do romance, mas que fazem críticas a masculinidade tóxica e a misoginia em histórias nas quais as mulheres são suas próprias heroínas. Desta forma, podemos até pensar em um posicionamento feminista por parte da direção diante dos elementos tratados por elas.
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