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QUANDO EU ME ENCONTRAR | A SUPERFÍCIE DE UMA AUSÊNCIA


Quando eu me encontrar | Direção: Michelline Helena e Amanda Pontes | 2024 | Brasil


“O fato de o mar estar calmo na superfície não significa que algo não esteja acontecendo nas profundezas.” Essa citação de Jostein Gaarder em ‘O mundo de Sofia’, me soa como um ponto de reflexão para pensarmos naquilo que “Quando Eu Me Encontrar” aciona.


É certo perceber que temos na tela mais um drama familiar que carrega uma aura amargurada, não tão somente pela ausência de um alguém, mas que foi, sim, mobilizada por essa falta repentina e sem explicações.


Dayane foi embora. Quem é Dayane? O que ela deseja? Qual é sua problemática? Por que se foi? Este filme não deseja responder estas perguntas, nem sequer temos algo concreto em torno destas questões. O que nos cabe é acompanhar aqueles que ficaram, imersos pela dúvida da volta deste alguém.


Chega até ser interessante pensar uma história que se volta a figuras deixadas para trás. É uma bela premissa. Mas será isso o bastante para termos um bom filme? O cinema é uma linguagem e é preciso todo um processo criativo diante de escolhas estéticas para se contar uma história. Depende da construção dos personagens, da concepção das cenas, da decupagem, do ponto de vista da câmera, da montagem, dentre outros fatores que formam o corpo fílmico. 


Neste trabalho, Micheline e Amanda conseguem um resultado conciso, breve, com bons atores e certo estímulo sentimental. Mas que fica somente na superfície de problemáticas tão profundas e tão humanas. A ausência, a sensação de abandono, o medo, a revolta, a mágoa, todas estas questões aparecem na obra, mas são tratadas de forma superficial e pouco aprofundada perante sua complexidade.


Vemos, com isso, somente a ponta do Iceberg neste universo familiar. Os diálogos reforçam o que já é aparente e a relação da mãe e da filha que ficou se resume a discussões e desentendimentos, tudo na tentativa naturalista de contar. Junto de tudo isso, tem as canções que soam muito mais como um apêndice quase dispensável ou pouco elaborado do que uma real proposta para a construção de uma experiência sensório-sentimental mais incisiva. Algo que se resolveria a partir de uma decupagem mais alinhada a este propósito, certamente. 


Pessoalmente, eu prefiro filmes com proposta mais profunda, alinhada a uma construção cênica que faça valer a problemática do universo tratado por ele. E talvez seja por não querer mergulhar nos dilemas dos seus personagens, ou por não se ater às estratégias de engajamento sensório possíveis, que “Quando Eu Me Encontrar” opera apenas sobre a superfície de um grande mar de possibilidades.


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