Título Original: Saltburn | Direção: Emerald Fenne | Ano: 2023 | País: Reino Unido
Os filmes que fazem críticas sociais têm ganhado atenção nos últimos anos, e Saltburn (2023), mais novo filme de Emerald Fennell, se enquadra neste lugar, que ganhou destaque, entre polêmicas e murmúrios por sua ousadia. Nele, temos o estudante Oliver Quick que começa a se aproximar do popular e charmoso Felix Catton nos corredores da Universidade de Oxford. Os dois iniciam uma amizade que resulta em um convite de Felix para Oliver passar o verão com ele e sua família numa grande mansão.
No início, temos uma sátira social com toques humor e mistério, mas logo depois a diretora vai construindo um drama psicológico refinado e irônico. Junto da família de Felix, Oliver passa a imagem de rapaz pobre e solitário, e recebe toda atenção possível daquelas figuras que vê nele um ser interessante. De fato, a rica família é alienada por sua posição social, e vê a pobreza e os sujeitos desprovidos, com curiosidade. Mas a diretora não quis ficar neste lugar comum pautando as insanidades da burguezia. Assim, ela cria um contexto complexo onde a maldade pode surgir de todas as partes.
Acompanhamos os rumos de uma amizade repentina e cheia de intenções, tensões, manipulações e mistérios. Aos poucos a máscara de bom moço de Oliver vai caindo. O que temos, na verdade, é um anti heroi sociopata e ambicioso, cujo desejo vai do sexo ao poder e riquesa. E a diretora mostra isso a partir das ações bizarras do protagonista para alcançar seu objetivo.
O filme é deslumbrante. As escolhas de direção são assertivas, principalmente no que se trata do Design de produção, da composição fotográfica, da montagem dinâmica e da trilha sonora. Todos estes elementos parecem seduzir o espectador. Somos cada vez mais atraídos por esse quebra cabeça carregado de tensão sexual e de espaços luxuosos e luminosos, como mariposas em volta da luz. (referência do filme)
Muitos podem não gostar do filme pelos excessos que existem em sua construção. Mas quem já assistiu “Bela vingança” (2020), filme anterior de Fennell, entende que essas escolhas partem de seu olhar autoral e estilo próprio. Em Saltburn, nada é por acaso, nenhuma ação, nenhum objeto ou enquadramento. Tudo é meticulosamente pensado. O uso criativo de metáforas visuais e referências, pode indicar que a narrativa se assemelha à estrutura de uma grande cebola. Em cada ação do protagonista e dos demais personagens, temos o desenrolar crescente da trama. Aos poucos, Oliver vai sendo conduzido ao seu objetivo final por consequência de um roteiro muito bem estruturado.
Sem dúvidas Saltburn é um filme impactante, assim como “Pobres criaturas”, e “Oppenheimer”, que também são filmes de realizadores que possuem um estilo próprio de lidar com a linguagem cinematográfica, tanto Yorgos Lanthimos quanto Christopher Nolan homens já consolidaram seu cinema. Penso que é neste lugar que Emerald Fennell desejar se enquadrar. Algo que nem sei se ela vai conseguir, já que o “cinema de autor”, contempla mais cineastas homens, colocando as mulheres em um cinema somente feminista, e pouco reconhecido pela indústria, que é majoritariamente masculina.