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THE LOVE WITCH | O AMOR E AS RELAÇÕES DE GÊNERO


Bruxas, existem criaturas mais famosas do que elas? As feiticeiras estão presentes não só em filmes de terror, mas também em filmes e séries infantis, comédias e até romances. Quem não gosta de assistir histórias de mulheres tão misteriosas e incríveis que podem causar medo, assombro, encanto ou até fazer rir?! E para entrarmos no clima do dia das bruxas, iremos neste vídeo falar sobre o filme The Love Witch da diretora Anna Biller.


The Love Witch é o segundo filme de Anna Biller, no qual ela, além de dirigir, roteirizou, produziu, editou e assinou cenografia e figurino da obra. Neste trabalho, acompanhamos Elaine (Samantha Robinson), uma jovem bruxa que sai de São Francisco para tentar uma nova vida no interior dos Estados Unidos, após a morte do marido. Na nova cidade ela se estabelece em uma distinta casa onde descansa e prepara seus feitiços e poções, pois está à procura de um novo amor. Assim, para alcançar seu objetivo, ela resolve fazer feitiços para que homens se apaixonem por ela. Sua magia, no entanto age tão fortemente que acaba matando seus pretendentes.


O filme tem um rigor técnico primoroso onde Biller recriou toda a estética dos filmes de terror da década de 1960 e 1970 com uma forma de homenagem ao cinema desta época. O filme foi gravado com câmeras de lentes em 35mm e opta por cores vibrantes com prevalência do vermelho e preto. A direção de arte segue a mesma linha com um visual retrô que é acompanhado por uma fotografia estilizada e montagem dinâmica. Todas as escolhas estéticas são claramente em favor do que a diretora deseja falar, como por exemplo, o uso do recurso das transições na intenção de causar efeitos pontuais na narrativa.


Anna Biller deseja mostrar uma visão feminina sobre a mulher no cinema e utiliza da figura da bruxa para refletir sobre questões de gênero. A feiticeira é utilizada muitas vezes como forma de ofender mulheres que estão fora dos padrões aceitos pela sociedade patriarcal. Mas há certos aspectos desta figura, como a sexualidade e a sedução, que são usados como características que as mulheres devem ter para agradar o sexo masculino. Indicações como “saiba como enfeitiçar um homem na cama” são um exemplo disso.

Elaine é viciada no amor, como ela mesma diz, e quer um homem que a ame. O problema é que, para ela, qualquer um poderia ocupar esse lugar na sua concepção. E em sua busca, a jovem consegue enfeitiçar Wayne (Jeffrey Vincent Parise), um professor de literatura que ao ser encantado começa a ficar dependente e emotivo. E isso é exatamente o oposto do que Elaine queria. E é claro que dá tudo errado. O homem acaba morto por sentir demais o amor. Porém ela continua a sua fatal busca até chegar em Griff (Gian Keys), um detetive marrento e emocionalmente distante, que passa a investigar as circunstâncias da morte de Wayne.


Neste longa, a diferença entre os sexos é claramente pontuada. Enquanto as mulheres são destemidas, românticas e inteligentes, os homens parecem bobos e fáceis de manipular, principalmente por uma atraente bruxa. Mas aqui também temos a masculinidade tóxica em discussão. A diretora foi muito assertiva ao fazer os homens morrerem à medida em que se entregavam à intensidade dos sentimentos presentes nas relações, algo que também está diretamente vinculado ao elemento do feminino.


O filme é carregado de diálogos que pontuam as diferenças entre as mulheres e os homens. É a partir dessa dinâmica que começamos a entender as relações e ensinamentos problemáticos que a jovem feiticeira recebe. Presenciamos através de flashbacks, uma série de relações abusivas que Elaine vivenciou, seja pelo próprio pai, pelo ex-marido ou por seu mestre. Tudo isso cria uma crença individual de que ela nunca é boa o suficiente para os homens, por mais que ela se esforce para isso.

A própria diretora aponta que sua protagonista se assemelha ao monstro de Frankenstein. Algo semelhante a um ser criado por homens a partir das expectativas que possuem para com as mulheres, regrando sua forma de ser e agir no mundo: belas, sexys e submissas a eles e às atividades domésticas.


A diretora deixa claro o pensamento machista em várias cenas. Como na sequência em que Elaine e Griff vão à um festival medieval de um pequeno vilarejo. Nessa construção, Elaine sonha em ser amada pelo detetive e se casar com ele. E este, diferente dela, só pensa na sua aparência e em sua atração meramente carnal, já que seu objetivo é apenas desfrutar de momentos de prazer sem se comprometer emocionalmente.


Desta forma acompanhamos uma busca que desde o início soa como impossível, não pelo fato de Elaine ser uma bruxa, ou de ser atraente demais, mas sim de aspectos masculinos que dificultam a existência de uma relação longa e saudável. Desta forma, podemos dizer que “The Love Witch” é uma obra intensamente singular, que fala dos engendramentos dos corpos masculinos e femininos e das dificuldades de se construir algo verdadeiro e sincero dentro dos moldes patriarcalistas da sociedade em que vivemos.




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