TUDO O QUE IMAGINAMOS COMO LUZ | UMA FAÍSCA NA ESCURIDÃO
- raianecfferreira
- 2 de abr.
- 2 min de leitura

Título original: All We Imagine as Light | Diretora: Payal Kapadia | Ano: 2024
Tudo o que imaginamos como Luz (2024) de Payal Kapadia é um grande exemplo quando um filme consegue exprimir poesia nas situações complexas do mundo.
Nele acompanhamos os dilemas de Prabha (Kani Kusruti) que vive presa a um marido que se foi sem data para voltar, e Anu (Divya Prabha) que procura lugares para ficar junto de seu namorado. As duas colegas de quarto trabalham no mesmo hospital que Parvaty (Chhaya Kadam) que, após a morte do marido, está passando por um processo de despejo
Claro que o contexto social importa, pois está implicado diariamente nas decisões, angústias e escolhas dessas mulheres. O medo de se relacionar com alguém de outra casta, o medo dos julgamentos por estar sozinha conversando com um homem. Neste cenário as mulheres precisam modular sempre suas ações e decisões, só que temos duas personagens bem diferentes, Anu vai aos poucos burlando as regras, mesmo que de forma escondida, para se sentir livre, e Prabha segue as normas rigidamente, que, muitas vezes, lhe causa ansiedade e desconforto.
E não podemos dizer que uma está mais certa ou errada que a outra, pois ambas são vítimas de uma sociedade extremamente desigual. A luz nessa escuridão é a amizade cultivada por elas. É a cumplicidade feminina que alimenta a esperança de encontrar a completude, de construir o futuro e ser respeitada como ser complexo no mundo de alguma maneira.

Tudo nesse longa é posto de forma equilbrada. Por mais que existam conflitos pela diferente personalidade entre Prabha e Anu, elas conseguem se entender. A diretora retira todo embate que poderia existir entre as mulheres, mesmo que este seja justificado. Pois, afinal, todas elas estão no mesmo barco rumo ao mesmo objetivo. E isso é propor uma perspectiva poética da realidade a partir da linguagem cinematográfica.
O que mais me encanta nesse filme é, não só ver histórias de mulheres sendo projetadas, mas perceber uma direção realmente alinhada a uma sensibilidade genuína por parte da perspectiva de Kapadia, e que também está inserida da mesma realidade de suas personagens. E é lindo ver narrativas femininas sendo construídas por diretoras que realmente pensam o cinema e, pensam a mulher no cinema.
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