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"Tully". Nas correntezas da maternidade.


Maternidade: estado, qualidade de mãe, laço de parentesco que une a mãe aos filhos. A indústria carrega um olhar distorcido sobre o que a maternidade é. A mulher é geradora de uma vida que carrega seus genes, ou seja uma parte dela, com isso, seus laços são eternos. Porém, a maternidade é mais que mero estado, é uma responsabilidade. Na maioria das vezes, direcionada às mulheres, e é este assunto que Tully () vai abordar.


A assim como Juno (2007), também dirigido por Jason Reitman e roteirizado por Diablo Cody, Tully aborda a maternidade como tema, porém agora há uma protagonista mais velha e experiente no assunto: Marlo (Charlize Theron), mãe de duas crianças; Sarah (Lia Frankland) e Jonah (Asher Miles Fallica), grávida do terceiro e casada com Drew (Ron Livingston). Nestas condições, a personagem possui uma aparência cansada e descuidada, dando a entender que ela passou por momentos difíceis que a deixaram neste estado. Mas não é somente a aparência que está comprometida, o psicológico também está, e é isso o que torna Marlo uma personagem completamente real.


O filme acompanha a protagonista com afinco. Para enfatizar o quanto a rotina dela é repetitivamente cansativa, o diretor opta por recortes rápidos que repetem as ações da personagem, como trocar fraldas, preparar o café da manhã, levar as crianças para a escola, etc. Drew não é um marido ruim, nem um pai ausente, porém não possui sensibilidade e atenção às questões domésticas e femininas. Ele tem sua própria rotina de trabalho e atividades, e nela, se acomodou.

Com a chegada do novo filho, sendo a única responsável pelo recém nascido, Marlo acaba por não conseguir suportar a rotina e chega ao auge de sua exaustão. A personagem só toma consciência de que precisa de ajuda, após surtar com a diretora da escola de um de seus filhos, Jonah. Depois deste ocorrido, ela decide por contratar uma babá noturna, na qual seu irmão havia indicado. E eis que aparece Tully (Mackenzie Davis), uma jovem alegre e descontraída que passa a cuidar do bebê e da mãe.


Marlo e Tully aos poucos criam um vínculo de confiança e amizade. A presença de Tully deixa a rotina da protagonista menos desgastante, seu humor e aparência melhoram. Tully arruma a casa, cuida do bebê, mas possui uma característica quase que fantasiosa, pois só quem tem contato com ela é Marlo, os outros que vivem na casa, não sabem quem é a babá, e sua aparência. O filme deixa de mostrar a relação de Marlo e a maternidade, mas sim dela com ela mesma, a partir de então, o filme ganha um teor psicológico.


É perceptível o olhar feminino da roteirista, já que temos uma percepção muito sutil e delicada da realidade feminina em suas questões maternas e existenciais. Até simples diálogos contam muito para a narrativa. Quando em um dado momento do longa Tully afirma que “as garotas se curam”, Marlo rebate: “Não. Se você olhar de perto, estamos cobertas de corretivo”, e assim o espectador entende exatamente o que ela quer dizer.

Marlo saí a noite e vai visitar o local onde viveu antes de se casar. Nesta pequena aventura, as duas entram em conflito, já que Tully diz ter que se afastar. A noite não termina muito bem. Ao voltarem para casa, por conta do cansaço, Marlo dorme no volante fazendo o carro capotar em um lago. E é aí que o espectador entende que o que ele acompanhou foi o que havia dentro da cabeça da personagem, sendo Tully, em forma de sereia, que solta seu cinto, salvando-a da morte.


Marlo faz o que pode e o que não pode para sua família, mas é uma mulher deprimida, pois possui um saudosismo de quem ela era, e Tully traz esta memória, sendo ela a representação da juventude da protagonista, seu espírito livre, já que este seria seu nome de solteira. Depois do acidente, Tully se despede de Marlo, um símbolo de que ela não pode voltar ao passado para resolver os problemas do presente. O importante é apenas seguir em frente.


Tully é um filme que carrega um olhar sensível sobre o comportamento humano, mostrando um retrato menos glamouroso da maternidade, ressaltando o peso social que é colocado sobre as mulheres. Se há uma suposta “magia” em gerar uma criança, também há responsabilidade, esforço e tempo para lhe dar os cuidados necessários. E esta é uma responsabilidade muitas vezes jogada para as mulheres, levando-as realmente a exaustão.


Ficha técnica

Título original: Tully

Direção: Jason Reitman

Roteiro: Diablo Cody

Ano: 2018

País: Estados Unidos /Canadá

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